Em "O Artesão" e "Como Nascem os Pássaros Azuis", Walter Lara revela a delicadeza de sua obra

Clarissa Carvalhaes - Hoje em Dia
29/01/2014 às 06:55.
Atualizado em 20/11/2021 às 15:39
 (Walter Lara)

(Walter Lara)

Ele podia ter escolhido ser pintor de um quadro só. Podia ter se dedicado a seguir carreira política e ter se perdido por aí. Podia até ter escrito e ilustrado livros de histórias para adultos. Podia. Mas o fato é que Walter Lara, nascido em Betim e hoje morador de Santa Luzia, cidade da Grande BH, decidiu percorrer outros caminhos. Nenhum deles, mais fáceis do que os propostos aqui.

Para começo de conversa, Walter deixa claro: escrever para o público infantojuvenil foi uma escolha. “E eu a fiz porque é como redescobrir as emoções pelas quais já passamos. A importância e a responsabilidade são enormes porque tanto o texto como as ilustrações estarão influenciando a forma de pensar, de ver e de sentir de crianças que poderão carregar essas concepções por toda uma vida. Eu não vejo dificuldades. Basta externar com sinceridade a nossa forma de sentir e de estar presentes no mundo, que a conexões se completam”, acredita.

Dono de obras como “O Artesão”, sua estreia como autor em 2010 (Editora Abacatte, 24 páginas, R$ 31) e o novo “Como Nascem os Pássaros Azuis” (2013, Editora Abacatte, 24 páginas, R$ 31), Walter está entre os importantes nomes da literatura do Estado.

O reconhecimento nasce aqui, mas vem de longe também. Com suas ilustrações infantis, recebeu várias vezes o título Altamente Recomendável pela Fundação Nacional do Livro Infantojuvenil (FNLIJ) e teve seus livros selecionados para a Feira Internacional de Bolonha, na Itália.

Em 2011, “O Artesão” foi considerado um dos 30 melhores livros infantis pela Revista Crescer, da Editora Globo. “Isto indica que a minha pesquisa e o caminho que busco dentro daquela técnica e daquele universo está sendo aprovado por profissionais especializados”, comemora o artista que revela onde vai buscar tanta inspiração:

“Sempre me sintonizo antes de chegar na prancheta. Cada profissional tem a sua chave para abrir a porta da sua percepção. A música do Chico Buarque me acompanha”.

Do lirismo ao realismo mágico

Para conhecer um pouco Walter Lara e entender as opções que ele fez na vida é preciso saber onde a história de amor do artista pelos desenhos e a aquarela começo. “Desde criança eu desenhava e isto me dava muito prazer”, recorda.

Hoje, aos 61 anos, Lara está entre os artistas mineiros que melhor se destacam utilizando a aquarela. A técnica, sem dúvida, é uma das responsáveis pelo envolvimento do leitor com as obras de Lara – trabalhos sempre guiados por um clima de lirismo e realismo mágico.

A expertise, afirma o artista, deu-se depois de muito tempo, a partir da experimentação de vários materiais. “Ela acabou sendo uma escolha que fiz pela leveza e transparência que possibilita. Mais do que isso, se também for trabalhada mais espessa, mais seca, a aquarela lembra muito os efeitos da pintura a óleo”, explica.

Natureza no foco

Nos trabalhos de Lara expostos nesta reportagem é possível observar a precisão que o artista imprime em sua obra. Bem além de Chico Buarque existem muitas outras inspirações. “Observar os animais e sua forma, movimento, textura e cor enriquecem o trabalho de quem desenha. A mistura de suas cores com combinações perfeitas, evoluídas em milhares de anos, me ensina a harmonizar melhor a minha palheta”, afirma para completar em seguida:

“Além do mais, ter a oportunidade de ilustrar esses animais e plantas para áreas de preservação ambiental é um privilégio”, diz o artista que tem dois painéis (óleo sobre tela) em exposição permanente no Museu de Ciências Naturais da PUC-MG.

Otimismo

Às voltas com projetos, livros e exposições que tratam de preservação ambiental, Lara comemora a preocupação, ainda que tímida, dos seus pequenos leitores com o planeta e a natureza. “É um processo que iniciou há pouco tempo. Sou otimista e vejo nos brasileirinhos grande respeito e interesse nesse tema. Eles têm muito material informativo. Não faltam livros bem produzidos à disposição deles. Também as escolas têm trabalhado muito o meio ambiente. O processo que se iniciou não tem volta. O planeta e nós agradecemos”.

“Em muitos casos a pintura fica encerrada num ambiente mais restrito. Um dos objetivos da obra é ser consumida por um número maior de pessoas. No caso do livro, esse objetivo é alcançado. Se considerarmos que cada livro, durante muito tempo, será lido por várias pessoas, ele alcançará este objetivo”, justifica Lara por estar se dedicando a literatura e não somente a produção de obras para galerias de arte.

Outra escolha de Lara é a de viver em Minas Gerais. “Aqui nos reencontramos sempre na diversidade da nossa cultura. Viver em outro lugar eu não quis. Poderia ir, mas voltaria sempre”.

Os ases da literatura infantojuvenil

Os representantes da Literatura Infantojuvenil de Minas Gerais são hoje um dos principais nomes do segmento no Brasil.

Entre os nomes de destaque, além do próprio Walter Lara, estão Ângela Leite (entre as principais obras, o bonito “Lição das Horas”, com projeto gráfico e ilustrações de Luiza Pessoa) e Marcelo Xavier (que assina “Tempo Todo”, de 2011, e “Festas” – livro que ganhou o Prêmio Jabuti em 2001 na categoria Ilustrações).

No entanto, pertence ao escritor paulista Pedro Bandeira o posto de o autor de literatura juvenil mais vendido no Brasil – até 2012 foram 23 milhões de exemplares vendidos.

Criador da série “Os Karas”, “O Fantástico Mistério de Feiurinha” e “A Marca de Uma Lágrima” (obras que estão entre os mais de 80 títulos publicados e ainda à venda até 2012), Bandeira é especialista em técnicas especiais de leitura, por isso mesmo, realiza conferências para professores em todo o país.

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