(WARNER/DIVULGAÇÃO)
Seria muito fácil afirmar que “Interestelar”, principal estreia de hoje nos cinemas, é um novo “2001 – Uma Odisseia no Espaço”, clássico filme de ficção-científica lançado em 1968. Embora tenham muitos aspectos em comum, o longa de Christopher Nolan dialoga mais com o nosso tempo do que uma possível tentativa de ressuscitar questões do passado. O “fim do mundo” está menos associado a guerras ou a uma leitura mística sobre o futuro. A maior diferença está em sua perspectiva, em que o indivíduo passa a ser o foco. Nas décadas de 60 e 70, como fruto da Guerra Fria, o pensamento era polarizado (esquerda ou direita) e tudo mais girava em torno disso. O coletivo é o que importa em “2001”. Já “Interestelar” não quer mostrar que a raça está se “desumanizando”, como se tivesse se mimetizado ao ambiente tecnológico que o rodeia, sendo necessário um novo Big Bang. Um momento-chave para entender a proposta do filme é quando, nos primeiros minutos, o personagem de Matthew McConaughey afirma que não há nada que possa ser explicado cientificamente. DESABASTECIMENTO McConaughey é um ex-astronauta frustrado devido à nova realidade do planeta, que abandonou as viagens de exploração para se voltar à agricultura. A fome se torna a grande batalha a ser vencida. A verdade é que a Terra está com seus dias contados e, secretamente, a Nasa estuda uma missão para buscar um outro lugar para viver e McConaughey é um dos poucos pilotos que restaram. Como vem sendo cada vez mais comum nos enredos de Nolan (“A Origem”), essa é apenas uma pontinha do iceberg, desenvolvendo uma história complexa, mas não incompreensível. POSITIVISMO Após suas 2h49, tudo é muito bem explicado, terminando de forma redondinha, apesar de sua longa duração nos fazer pensar o contrário. E o que salta aos nossos olhos é o indivíduo. Ou melhor, um homem “positivista”, desvinculado da religião e da metafísica. O conhecimento está ligado a uma certa ética humana, que, em “Interestelar”, é definida pelo amor. O filme nos faz acreditar que possa haver outro tipo de explicação para, mais tarde, desmentir cada um deles. O amor, por exemplo, não é definido como uma virtude rara ou divinal. Além de mensurável, o que a física já acena como algo aceitável, ele é biológico, como consequência da evolução da espécie. Não por acaso, o único que se apresenta é o amor entre pais e filhos. O piloto aceita participar da missão para que seus genes continuem nas próximas gerações. E a melhor ilustração disso é quando diz que “somos (os pais) a memória para nossos filhos”.