Entre a mãe-da-lua e o Pai da Mata, escritora revela segredos do Tocantins em BH

Elemara Duarte - Hoje em Dia
18/02/2016 às 22:53.
Atualizado em 16/11/2021 às 01:29

(Hoje em Dia)

O que é que a literatura infantil tocantinense tem? A escritora e professora Irma Galhardo, responsável por levantar os ícones do folclore do estado mais novo do Brasil estará em BH, nesta sexta-feira (19), para mostrar boa parte desta resposta. A prosa com a autora acontece por meio do projeto “Tocantins Poético e Lendário”. A iniciativa vai passar por dez capitais brasileiras. “Temos que mostrar esta riqueza cultural que é imensa e que pouca gente conhece. Mas ensinar apenas, não. Aprender também! ”, diz a autora.

Escritora, cordelista e contadora de histórias, Irma tomou para si a missão de registrar e divulgar a cultura do estado que a acolheu há mais de uma década. Irma é baiana e se casou com um tocantinense. Foi para o estado, teve filhos e hoje... “Tenho um mote: 'Eu venho do Tocantins, terra de muita magia, mas carrego outros valores, pois eu sou tocantinense que nasceu lá na Bahia...' Hoje, me sinto mais tocantinense e sei muito mais da cultura do que ele”, brinca a professora de 48 anos.

Todo este conhecimento ela descobriu depois de um clique. “No mês de agosto, enquanto as escolas do Brasil inteiro trabalhavam o folclore, o Tocantins mandava importar o Saci-Pererê e a Mula Sem Cabeça”, lembrou. Isso porquê eles não tinham o folclore próprio registrado na literatura infantil para mostrar para as crianças.

Na memória oral

Irma percebeu esta lacuna e resolveu ir em busca do folclore do Tocantins. Hoje, ela possui cinco livros publicados – vários deles premiados. Assim, por meio de viagens e de muita pesquisa na tradição oral, especialmente com idosos, ela conseguiu fazer o registro em versos.

“Sou cordelista. Meu primeiro livro, 'Epopeia Tocantinense' levantou a história do estado desde a descoberta do Rio Tocantins, em 1610, até a atualidade”.

Assim, além de seguir a linha da tradição oral para a pesquisa, Irma se valeu da habilidade como contadora de histórias. Entre os símbolos deste patrimônio que descobriu está a “Buiúna”. “É a cobra-gigante tão caudalosa quanto o Rio Tocantins. Quando ela aparece, as águas têm que sair, pois não cabem os dois no leito do rio...”, narra, em tom de contadora nata que é.

 

CAUDALOSA E AO VIVO! - Um dos símbolos resgatados pela autora é utilizado para construir a consciência ecológica

Mas os livros de Irma não se restringem apenas ao registro de tamanho legado oral. Neles, ela tenta passar mensagens ecológicas. Tudo por meio de versos. “Na minha versão, além da história, mostro que ela vem pedir socorro para que as pessoas parem de desmatar”.

No segundo livro, outro símbolo: o “Pai da Mata”. “É um índio, que de tão velho, desapareceu. E, hoje, as pessoas sabem apenas dos atos dele para proteger a natureza. Ele tem o corpo cheio de pelos que formam um escudo contra os caçadores e desmatadores que revidam contra ele”. Um "ninja" das florestas!

Já o “Pirarucu Encantado”, outro livro, ela recorre à lenda do boto-cor-de-rosa. “Na nossa realidade, o Pirarucu está mais presente. Então, fiz esta adaptação. Ele aparece nas noites de lua cheia, mas para salvar jovens, crianças e a natureza também”.

Filha do pássaro

Neste mergulho nas águas literárias orais do Tocantins, um dos mais emocionantes símbolos encontrados por Irma Galhardo é a “Mãe-da-Lua”, um pássaro específico da região que está ameaçado de extinção. “'Lua, filha adorada, de você fui separada, viver solitariamente é a pior coisa que existe...' e o poema vai explicando a história dela".

Graças a este precursor trabalho, a autora fez participações em vários eventos literários na Europa, entre eles, o 27º Salão Internacional do Livro e da Imprensa de Genebra. Para este ano, prepara a pesquisa para mais um livro: “Contos Tradicionais da Comunidade Quilombola do Mumbuca, Jalapão”, região conhecida como o "deserto brasileiro", devido às suas dunas no meio da mata. “Estou pesquisando, junto das velhinhas do Jalapão. Elas estão morrendo e levando as histórias com elas”.

Na bagagem para a viagem de três horas de viagem de avião, que gastou para chegar em Minas Gerais, a professora trouxe ainda a “Ritxoko”. “É uma bonequinha de cerâmica feita pelas mulheres índias Karajás. Elas têm valor cosmológico, pedagógico e social”.

Ao brincar com as bonecas, as meninas aprendem a ser Karajá, entram em contato os bons valores, as histórias e os mitos da sua tribo. A boneca e outros símbolos do jovem estado brasileiro estarão em uma exposição durante o bate-papo com Irma Galhardo, em BH. E ainda tem brasileiro procurando magia em distantes matrioskas russas...

SERVIÇO

Conversa com Irma Galhardo, nesta sexta-feira (19), às 9h30, na Biblioteca Pública Infantil e Juvenil de BH (rua Carangola, 288, térreo, Santo Antônio). Gratuito. Informações: (31) 3277-8658. Informações: irmagalhardo.blogspot.com.br/ e caravanadelendasdotocantins.blogspot.com.br/

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