Santino poderia ser o primo mineiro de João Grilo e Chicó, personagens de “O Auto da Compadecida”, de Adriano Suassuna, que têm em comum com o “parente” do Sudeste o jeito caipira, preguiçoso e sedutor, valendo-se de situações cômicas para sair de perigosas enrascadas. “O fotógrafo Alexandre Baxter definiu como um Suassuna brincando no terreno de Guimarães Rosa”, registra o diretor Guilherme Fiuza, ao concordar com as comparações entre “O Auto” e seu “Santino e o Bilhete Premiado”, especial que será exibido nesse sábado, às 14h30, na Globo. A diferença é que a trama não é baseada em nenhum best seller. Ela surgiu do ouvido apurado de Fiuza, que resgatou de uma conversa num bar a incrível história de um coronel do interior que mandava seus desafetos entregarem bilhetes com os dizeres “Mate o portador deste”. O mote tem um quê “pavoroso”, como destaca o cineasta, mas o humor prevalece, assim com em outros trabalhos de Fiuza, que assinou recentemente “O Menino no Espelho”, adaptação de Fernando Sabino. “É impressionante como tem feito mais barulho que o ‘Menino’”, salienta. Não é a primeira vez que ele trabalha para a TV, mas tem o sabor de uma estreia. “Além de ser uma obra feita por encomenda, um diferencial agora é a liberdade que eu tive”, destaca Fiuza, que pôde escolher o elenco, a equipe e as locações, todos mineiros diga-se de passagem. “A própria Globo queria algo mais regional. Ela chegou a dizer que, se eu quisesse, poderia chamar um ator da casa, que eles intermediariam o processo, mas desde o início vi nesse especial a oportunidade de mostrar que temos aqui atores muito bons”, assinala o realizador.
Alexandre Cioletti faz com eficiência um estilo próximo ao de Selton Mello em “O Auto da Compadecida” e “Lisbela e o Prisioneiro”, meio galã, meio cômico. Carlos Magno Ribeiro é uma espécie de fiel escudeiro, exibindo uma “veia cômica que amadureceu ao longo dos anos”. A mocinha, filha de ninguém menos que o tal coronel, é interpretada por Bruna Chiaradia. “Conheci a Bruna ao assumir a direção de uma série em que ela atuava. Tem uma beleza que não é óbvia, exótica”, comenta. O “coroné” é feito por Chico Pelúcio, do grupo Galpão. A produção contou com a consultoria de Jayme Monjardim (em cartaz com “O Vendedor de Sonhos”), que passou a acompanhá-lo após o segundo tratamento do roteiro. “Ele foi só elogios, mudando algumas coisas, como a ideia de ter mais romance. Além disso, ficou dois dias no set com a gente”, registra.