TEATRO

Espetáculo aborda solidão do mundo virtual e as identidades de gênero

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
28/06/2022 às 20:21.
Atualizado em 28/06/2022 às 20:35

Grupo O Somos exibe uma mescla de dança urbana com novas expressões de artes e à tecnologia (Fernanda Diniz/Divulgação)

Oriundo do interior do Rio de Janeiro, o diretor e coreógrafo Túlio Cássio chegou a Belo Horizonte há exatamente uma década. Com um ano na nova residência, a sensação de solidão ainda permanecia, mesmo com a disponibilidade de aplicativos de relacionamentos, que davam os seus primeiros passos na época. Temas e vivências que acabaram marcando a vida do artista para sempre, a partir da criação do grupo “O Somos”.

“Nunca mais paramos de investigar essa temática da relação do ser com o outro e com as mídias sociais na cidade”, registra Cássio, que retorna a essas questões no espetáculo “Arquivo_ O Somos”, que será apresentado sexta, sábado e domingo na Funarte. “O mote do espetáculo tem um caminho de nove anos. Nesse período passamos a investigar outras coisas também”, destaca.

Uma das características do trabalho do “O Somos” é mesclar dança urbana com tecnologia e novas expressões artísticas. O espetáculo traz essa concepção, debatendo a nossa transformação em outra pessoa quando estamos no mundo virtual. “Usamos uma espécie de máscara. Certa vez a minha psicóloga disse que, em nossa sociedade, precisamos nos esconder para sermos percebidos”.

A máscara, num sentido literal, entrou na vida de Cássio quando uma amiga, com quem dividia o apartamento, chegou com o objeto  após fazer uma oficina com a artista plástica Julia Panadés, inspirada no trabalho do cartunista Saul Steinberg. “Eu as achei muito expressivas e ao mesmo tempo tristes. A partir daí fomos para a rua, com uma performance na feira da Afonso Pena”, lembra.

No primeiro ato de “Arquivo_Somos”, chamado “A Concepção”, surge a figura de um programador de sistemas de informação. As cortinas se abrem com ele já criando ambientes onde os personagens irão habitar. No segundo, “Boot, um Processo de Inicialização Forçada”, o criador percebe que as coisas não estão saindo do jeito que imaginava. É o momento em que a peça investiga a questão do binarismo na sociedade.

“Vamos tratar das possibilidades de gênero, não só do masculino e do feminino. Temos como referência os textos da filosofia Judith Butler, que fala de um fardo binário, em que, assim que nascemos, o órgão sexual já colocará um fardo nesse corpo”, analisa o artista fluminense, que reconstrói a famosa obra “O Homem Vitruviano”, de Leonardo da Vinci, batizando a nova criação de Trans Vitruviana.

Em “Looping”,terceiro ato, entra em cena a discussão sobre softwares como Siri e Alexa, que têm vozes femininas. “Por que elas vêm de fábrica com essa configuração? Por que estamos repetindo comportamentos, sobre o lugar de servidão da mulher?”, indaga. No quarto, “Bug”,  vem a discussão sobre como os seres estão se relacionando com o outro, nessa cidade e espaço, com um mundo cada vez mais conectado e solitário.

Arquivo_O Somos - Sexta e sábado, às 20h, e domingo, às 18h. Na Funarte (Rua Januária, 68). Ingressos: R$ 20 (R$ 10, a meia).

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