‘Espírito transgressor ainda toca os jovens’

Patrícia Cassese* - Hoje em Dia
Publicado em 24/09/2015 às 07:43.Atualizado em 17/11/2021 às 01:50.
 (Arquivo hoje em dia)
(Arquivo hoje em dia)

Jim Morrison não morreu. Bem, os restos mortais estão lá, no emblemático cemitério Père Lachaise, em Paris, que teve que engendrar um esquema especial para organizar as visitas de fãs de todo o mundo. Mas as ideias seguem angariando defensores extremados, como admite o crítico Rodrigo James, para quem o espírito transgressor do artista, principalmente, ainda toca na alma dos jovens, “tão ansiosos por questionarem seus status quo particulares”. “Mais do que seu legado poético, o que mais perdura é sua personalidade, intimamente ligada à obra e presente em cada nota musical cantada por ele nos discos e nas centenas de shows que fez – e que, felizmente, foram registrados para a posteridade”.

James frisa que Morrison foi um poeta de mão cheia numa época em que a poesia começou a ter uma característica mais pop e a ser consumida pelas massas. Mas não só. “Era um cantor ímpar, com um tom de voz gutural e suave, alto e baixo, aveludado e rasgado ao mesmo tempo (uma raridade quando pensamos em cantores de rock); tinha uma personalidade transgressora, não respeitava as convenções em uma época na qual essas estavam sendo questionadas e o mundo mudando exatamente por conta disso. E, finalmente, era um homem lindo”, diz, referindo-se a uma característica sempre citada pela ala feminina dos fãs de Morrison.

American Way of Life

Marcos Kacowizc lembra que Morrison foi um compositor fabuloso, que conseguia, principalmente em suas letras, “muitas recheadas de metáforas, falar da decadência do american way of life, com clareza e sarcasmo – além de bom humor”. Marcos enfatiza que Morrison estudou cinema, e entende que seus textos não eram apenas letras, “e sim roteiros bem elaborados”. “The End” e “Celebration of the Lizard”, acrescenta, seriam bons exemplos. “Além disso, nos shows, se transformava, e ficava mais ousado e abusado, assumindo uma identidade mais desafiadora, chegando a ser preso praticamente no palco. Conhecia os poetas malditos, como Rimbaud e Baudelaire, e por isso tinha um texto diferenciado”.

Já sobre The Doors, ele acrescenta que os outros músicos – Robbie Krieger, John Densmore e Ray Manzarek – eram, sim, de altíssimo nível. “Seguravam a onda para Morrison comandar, mas, sem eles, nada teria acontecido do tamanho que foi”.

Professor da Faculdade de Letras da UFMG e autor do livro “Jim Morrison – O Poeta Xamã”, Marcel de Lima Santos teve um primeiro contato com a produção do líder do The Doors por meio do relançamento dessa, dez anos após a morte do artista. “Morava no México quando saiu a biografia ‘No One Here Gets Out Alive’ de Danny Sugerman)”.

Em seu livro, Marcel promove uma articulação entre a produção poética do Jim e o xamanismo. “Ele se declarava possuído por um xamã. Tanto na biografia quanto no filme (“The Doors”, de Oliver Stone) , há a história de que quando ele tinha 4 anos, sofreu um acidente próximo a um local no qual havia índios moribundos. E acreditava ter sido possuído por um desses xamãs”.

Para Marcel, Morrison agregou qualidade poética ao rock e, sem dúvida, deixou um legado. “Vejo diversos movimentos que se apropriam e assimilam essa tentativa de levar qualidade poética ao rock. O grunge é um que poderia ser traçado como herdeiro”, aponta.

*Colaborou Cinthya Oliveira

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