SÃO PAULO - Em entrevista ao programa "De Frente com Gabi", do SBT, que foi ao ar na madrugada desta segunda-feira (27), o cantor Amado Batista revelou ter sido torturado durante a ditadura militar no Brasil (1964-1985), mas disse não se sentir vítima do Estado e comparou seus torturadores a "uma mãe que corrige um filho".
Batista contou à jornalista Marília Gabriela que antes de se tornar músico profissional, quando tinha entre 18 e 19 anos, trabalhava em uma livraria. O emprego facilitou o acesso de intelectuais a livros considerados subversivos na época.
O artista disse também ter aceitado enviar somas de dinheiro a um professor universitário do Maranhão. Mais tarde, Batista descobriu que o professor estava envolvido em ações clandestinas de grupos esquerdistas.
De acordo com o cantor, quando os militares investigaram seus clientes na livraria, acabaram chegando até ele. Batista foi preso por dois meses e torturado. "Me bateram muito. Me deram choques elétricos", disse.
"Um dia me soltaram, todo machucado. Fiquei tão atordoado. Queria largar tudo e virar andarilho."
Questionado se teria vontade de confrontar seus torturadores, o cantor foi enfático. "Não. Eu acho que mereci. Fiz coisas erradas, eles me corrigiram, assim como uma mãe que corrige um filho. Acho que eu estava errado por estar contra o governo e ter acobertado pessoas que queriam tomar o país à força. Fui torturado, mas mereci."
O músico revelou, ainda, ter sido procurado pela Comissão da Verdade, que investiga violações de direitos humanos praticados durante a ditadura. Atualmente, Batista recebe uma indenização do governo. "Recebo um salário de cerca de R$ 1 mil, há algum tempo, mas acho desnecessário."