(MAURÍCIO VIEIRA)
Mais de 1.500 visitantes no primeiro dia da exposição “São Francisco na Arte de Mestres Italianos”, recorde na história da Casa Fiat de Cultura. O número é muito significativo para mostrar não só a forte religiosidade que ainda impregna os mineiros, como também a popularidade crescente de São Francisco, que, não por acaso, “empresta” o nome ao papa. “Este sucesso se deve principalmente à força da imagem de São Francisco, muito presente no consciente coletivo”, observa o presidente do espaço, José Eduardo de Lima Pereira. Aberta na quarta-feira, a mostra reúne 20 pinturas realizadas entre os séculos XV e XVIII que retratam o santo mais pop da Igreja Católica. “É muito atual. Os temas centrais da pregação de São Francisco são a paz e o meio ambiente, presentes dos debates de hoje”, registra o curador Stefano Papetti, diretor da Pinacoteca Civica Di Ascoli e um dos responsáveis por trazer, de maneira inédita, acervos de 15 museus de sete cidades italianas. Ele fez questão de frisar que essa reunião é inédita até mesmo na Itália e, para trazer os quadros a BH, onde ficarão expostos até 21 de outubro, e no Rio de Janeiro (no Museu Nacional de Belas Artes), teve que vencer a burocracia italiana. “Foi um milagre de São Francisco!”, resume Lima Pereira. Homenagem ao PapaMilagre ou não, a iniciativa já teve os seus desdobramentos, com Papetti sendo procurado pelo Vaticano para montar a exposição numa cidade onde o Papa visitará brevemente. “Não podemos dizer onde e qual será ainda”, revela o curador, em tom misterioso, ao Hoje em Dia. Ele pretende também incorporar à homenagem duas obras brasileiras. “No Brasil, o que há de mais forte é a representação pela escultura e pela ourivesaria. Ou seja, as expressões tridimensionais de São Francisco. Ele chega ao Brasil na época em que foi remodelado pela Contrarreforma da Igreja Católica, em consequência ao Concílio de Trento, ao não querer negociar com os protestantes e preferir fortalecer a sua imagem”, detalha Papetti. O diretor italiano destaca, entre as obras já visitadas no Brasil, a fachada da Igreja de São Francisco, em Ouro Preto, que apresenta os sinais dos estigmas (as chagas na mão de Cristo) do santo. “É uma coisa inédita, pois essa representação era feita do lado de dentro das igrejas e, neste caso, se tornou um modo de atrair os fiéis para dentro”. Na exposição, os quadros foram divididos em três setores. Um primeiro, em que São Francisco é mostrado sozinho, de forma devocional. Já no segundo núcleo o santo aparece associado aos estigmas de Jesus Cristo, ganhando caráter miraculoso. No terceiro, institucionalizado pela Igreja, surge acompanhado por outros santos.