“Falando Sozinha” narra a história da menina Isósceles Pallidos – o nome vem da fascinação de seu pai pela matemática. O título foi escrito pelo também dramaturgo e roteirista Toni Brandão há exatos 23 anos. Mais atual do que nunca – tirando o fato que o escritor trocou as cartas pelos e-mails – o livro é permeado por temas importantes, como meio ambiente, adolescência e relações sociais, e ganha nova edição pela Edelbra.
Um parênteses para explicar que as experiências e emoções vivenciadas por Isósceles são contadas por meio de e-mails da protagonista para os meio-irmãos Escaleno e Equilátero (dá para perceber como o genitor é um apaixonado por matemática), que moram com o pai no Rio de Janeiro. A escolha por esta forma de comunicação não foi aleatória, segundo Toni Brandão.
Comunicação Unilateral
“Na época em que escrevi “Falando Sozinha”, eram cartas que a protagonista enviava. Para o livro da Edelbra, achei as mensagens de e-mails a maneira mais fácil de Isósceles contar e ir mandando e mandando notícias sobre a vida dela, sem nunca obter respostas dos irmãos. Não queria perder o foco da comunicação solitária”, justifica o autor, que descartou rede social e mensagens rápidas, como WhatsApp.
Isósceles tem 12 anos e vive em uma casa com sua mãe e um monte de bichos: os cachorros Paulo e Paula, um papagaio de nome Marajó, a tartaruga Meia-Lua e um bode sem nome que encontrou na rua. Tudo parecia perfeito, não fosse o fato de que a garota teria que doar seus bichos, porque mudaria para um prédio no qual não era permitida a criação de animais.
Os dilemas de Isósceles
A protagonista de “Falando Sozinha” não é uma menina como a maioria das garotas de sua idade. Segundo Toni, ela é a personagem mais hermética que já compôs para seu universo infantojuvenil. “Ela tem um componente hermético, de melancolias.
As ilustrações bem-humoradas de Carla Irusta diluem o peso que, eventualmente, o texto possa ter”, acrescenta o autor que se inspirou na atriz Lucélia Santos. “Conheci Lucélia e logo de cara gostei do perfil dela de brigar pelos direitos, no sentido de não deixar acumular insatisfações e reivindicar um pouco mais de delicadeza por meio de nossos gestos transformadores”.
Além da paixão pelos animais e o envolvimento com causas, como abrigo para os bichos, defesa do direito de brincar no condomínio, Isósceles mostra, de maneira divertida e, ao mesmo tempo, sensível e comovente; o olhar do adolescente para um mundo estruturado por adultos. A protagonista, que na história faz comerciais pra TV (mas não dá tanta bola para o assunto), é mestre em soltar pérolas do tipo: “Parece que a saudade gostou mesmo de morar em mim. Tanto que cada vez convida mais saudades para vir com ela”.