(Fotos CasaGravada/ Divulgação)
Berço de uma das mais fascinantes linguagens da arte, a gravura ocupa um espaço ainda modesto diante das suas infinitas texturas e possibilidades gráficas. No último ano, Belo Horizonte ganhou um espaço que abre as portas e se dedica à pesquisa, disciplina e alquimia dessa técnica e seus processos artesanais.
Batizado "CasaGravada", o ateliê-escola funciona desde 2014 no bairro Floresta, região Leste da cidade, e é mantido por dez artistas que nos últimos tempos vêm recolocando a gravura à condição de arte. Parte dos trabalhos produzidos por eles - e por outros artistas gravadores convidados - estarão à venda a partir desta sexta-feira (11) e até domingo (13) na 2ª Feira de Gravuras e Estampas.
Se na primeira edição (que aconteceu no ano passado), a feira contou com pouco mais de 40 nomes, dessa vez o número de participantes subiu para quase 70. Além da turma de BH, o evento reúne artistas de São Paulo, Paraná, Pernambuco e Uruguay. Ao todo serão aproximadamente 350 obras criadas a partir das mais diversas técnicas de gravura como a xilo, serigrafia e a gravura em metal (ei! não deixe de conferir as gravuras da famíla Borges de Xilogravadores de Cordel!)
Vale ressaltar que, em tempos de famigerada crise (e de corre-corre para um presente de Natal), as obras da feira têm ainda preços democráticos e tentadores: você pode sair feliz da CasaGravada com gravuras de R$ 30. Outras, com valor mais salgado, chegam a R$ 1.200.
Casa da gravura
"Chuva II" (2015)
Segundo Rafael Casamenor, um dos fundadores da CasaGravada, o ateliê-escola possibilita aos artistas gravadores, darem continuidade à produção em gravura depois de concluirem a faculdade.
"Todos que se formavam tinham três opções: a primeira era montar um ateliê particular, o que é díficil em função dos altos custos. Segunda, continuar frequentando, sem vínculo e consequentemente com perda de autonomia, os ateliês das universidades. Terceira, enfiar a viola no saco e ir embora pra casa".
Atualmente, Alessandro Lima, Ana Feria, Betho Freitas, Binho Barreto, Carolina Mazzini, Jaider Laerdson, Luiza Pacheco, Najla Lewroy, Rafael Casamenor e Tales Bedeschi são os nomes à frente da CasaGravada. Além da feira, o espaço promove residências artísticas, palestras e projetos internacionais.
"Num primeiro momento, a Casa foi criada como espaço de produção compartilhado. Em seguida começou a se tornar também um lugar de ensino e propagação da gravura e de outras artes de impressão. Agora começa a se consolidadr como um ator de circulação e venda de arte impressa. Acho que avançamos muito rápido", comemora.
Arte de reproduzir arte
A gravura nasceu na medida que o homem sentiu necessidade de reproduzir uma imagem e teve papel fundamental na construção do conhecimento da civilização, afinal coube a ela fazer com que a informação visual começasse a circular pelo mundo.
A partir desse conceito é possível ver a diferença entre a gravura e o desenho: todo desenho é uma imagem original, única, acabada. Já a ideia de gravura indica a existência de uma matriz a partir da qual a imagem pode ser reproduzida em outro meio.
Essa reprodução pode ser em um papel, tecido, pergaminho, argila. Já a matriz, propriamente dita, é lugar onde se faz o desenho para que seja mutiplicado. A matriz determinada é que designa a técnica, por exemplo, a gravura em madeira (xilo), a gravura em metal (água-forte, água-tinta), a gravura em pedra (lito), entre outras.
"Gravações Interrompidas" (2013), de Luíza Pacheco, foi criada a partir da modalidade água-forte
Pra entender mais
A xilogravura é a forma de gravura mais antiga que se conhece, genericamente denominada de gravura em relevo. A matriz de madeira (mogno, pereira, nogueira) é entalhada de forma que a imagem fique em alto relevo. A impressão pode ser manual, friccionando-se uma colher de madeira sobre o papel, e também com prelo ou prensa vertical. A impressão sobre tecido já era conhecida antes do século 14, mas foi com o aparecimento do livro impresso que a xilogravura se desenvolveu no Ocidente.
Na gravura de encavo, feita em metal, a imagem é gravada dentro da matriz e a tinta penetra nas ranhuras, transferindo a imagem para o papel. Sua origem está ligada à ourivesaria, obra de entalhe para ornamentação. A evolução dos processos gráficos levou à adoção das matrizes de metal para impressão, devido à alta qualidade das imagens e resistência a grandes tiragens. A impressão baseia-se na retirada da tinta que se encontra nos sulcos gravados, o que exige considerável pressão mecânica e, portanto, equipamento adequado que difere do tipográfico ou da impressão manual da xilogravura.
A gravura planográfica não recorre gravações, mas ao isolamento de áreas da matriz, e tem sob a mesma denominação a litografia e a serigrafia. O fundamento do processo litográfico é simples: rejeição da água pela gordura e vice-versa. Diz-se litografia, e não litogravura, justamente porque a pedra matriz não é gravada e, sim, sensibilizada para receber a tinta. A serigrafia, por sua vez, remonta a vários séculos de uso por chineses e japoneses, basicamente na pintura têxtil. As primeiras aplicaçõe gráficas foram americanas, no início do século 20. Seu princípio técnico básico é a utilização de tela de seda como matriz, estendida sobre um bastidor de madeira, mas o desenvolvimento de novos materiais sintéticos, como o nylon, trouxe grande salto de qualidade gráfica.
Fonte: Centro de Pesquisas em Gravura da Universidade Estadual de Campinas
Serviço
Feira de Gravuras e Estampas da CasaGravada
Endereço: avenida do Contorno, 2017, Floresta - BH
Dias: 11, 12 e 13 de dezembro, das 14 às 22h
Formas de pagamento: Dinheiro, cartões de débito e crédito