Fernando Pacheco era um garoto que amava os Beatles e os Rolling Stones. Isso na década de 60, quando era o baterista de uma banda ao estilo do quarteto de Liverpool, os Beat Kings, que chegou a abrir shows para Chico Buarque, Cauby Peixoto e Wilson Simonal. “Na hora de encarar a coisa profissionalmente, cada um foi para um lugar”, lembra Pacheco, que, ao contrário dos colegas, não abandonou a arte, trocando a música pop pela pintura.
O artista, que comemora 50 anos de atividades com uma exposição que será aberta amanhã, na P.S. Galeria, não deixou de ser pop, conquistando rapidamente o seu espaço, ocupando paredes antes inéditas para as artes plásticas brasileiras, como galerias em Taiwan, China e Nova Zelândia. Na Oceania e na Ásia, principalmente, ganhou notoriedade e virou protagonista de documentário dirigido por Campbell Cooley. “Tudo isso contribuiu para uma carreira internacional mais forte que no Brasil”, diz.
Integridade
Apesar de expandir durante cinco décadas o seu trabalho para vários continentes, ele continuou fiel ao seu estilo, cunhado de forma autodidata, após seguir uma intuição de criança, época em que a fantasia era uma grande companheira. “Quando pequeno, criava um mundo paralelo, enxergando coisas que não existiam fisicamente. Falava sozinho, conversando com amigos que ninguém via. Mais tarde, quis materializar esse mundo desconhecido na pintura”, recorda Pacheco.
Ilustração que colabora a ideia de uma arte “que vem de dentro”, a partir da percepção do mundo e das relações afetivas. “É o que vai formando um artista. Na escola, a gente aprende as técnicas”, assinala. Pacheco lembra que era uma espécie de Van Gogh na adolescência, deixando a mãe preocupada com o fato de dormir no mesmo espaço que fazia de ateliê. “Ela morria de medo daquelas tintas, do que poderiam fazer à minha saúde”, registra.
A exposição “Pintura Nua” de Fernando Pacheco, que reúne 64 obras (boa parte delas inéditas) tem abertura amanhã, às 19h, e fica em cartaz até 25 de janeiro na Galeria P.S (Rua Antônio de Albuquerque, 911– Savassi)
Ao contrário do pintor holandês de “Girassóis”, Pacheco não pensou em cortar a própria orelha, tampouco sofreu com fantasmas interiores. Ele prefere criar imagens na mente de seus espectadores. “Pintura não é decoração, enfeite na parede. Pintura é reflexão. Minha pintura é nua, direta, com uma caligrafia pictórica sem efeitos para iludir. Ela flui para uma pergunta: ‘Quem é você?’. É olhar para essa pintura de olhos fechados, em busca de autoconhecimento”, analisa.
Sonhos
A arte, para ele, é o ponto de encontro com os verdadeiros sonhos. “Sem este tipo de conhecimento, não temos condições de mudar o mundo exterior. Acaba-se falando bobagens”, enfatiza. É assim que Pacheco defende as suas posições políticas. “Não fico, diferentemente dos meus amigos artistas, entrando em discussões políticas abertamente. Eu reivindico nosso direito de liberdade de expressão por meio da poesia, do lirismo”, defende.
Com o dinheiro que recebeu das exposições no exterior, criou o Centro de Arte Fernando Pacheco, na Pampulha, em que as obras convivem com catálogos e outros tipos de documentação. “Ao documentar a minha trajetória, vou estar falando de toda uma geração de artistas que participava daqueles salões e catálogos”, destaca Pacheco, que optou por comemorar 50 anos de ofício com pinturas inéditas. “Vou deixar para os meus amigos fazerem a retrospectiva quando morrer”, brinca.