Filme ‘A Vizinhança do Tigre’, que estreia nesta quinta, retrata a realidade da periferia

Paulo Henrique Silva
Hoje em Dia - Belo Horizonte
18/02/2016 às 16:21.
Atualizado em 21/11/2021 às 22:52

(Frederico Haikal)

Hoje, um é ator. O outro, artista plástico. Mas há sete anos, quando o filme “A Vizinhança do Tigre” começou a ser produzido, no bairro Nacional, em Contagem, Wederson Patrício e Maurício Chagas, hoje com 21 anos, ainda eram dois garotos, caminhando sobre uma linha tênue entre o legal e o ilegal.

Vencedor da Mostra de Tiradentes há dois anos, o filme de Affonso Uchoa – que finalmente estreia na cidade – ajudou a determinar o futuro de ambos, como eles mesmos reconhecem.

O cineasta, vale dizer, segue morando no Nacional, o que, aliás, lhe assegura passar ao largo da “síndrome de Pixote” – referência ao filme de Hector Babenco (de 1980), cujo protagonista (Fernando Ramos da Silva) chegou a ganhar notoriedade, mas, sem qualquer amparo, acabou virando criminoso.

“Ainda estou lá, convivendo com eles. Não fui para a periferia e selecionei um garoto para o filme, como aconteceu com o Fernando (morto em 1987, aos 19 anos). Além disso, o filme não ganhou dinheiro. Ao contrário. Foi feito com poucos recursos, durante quatro anos, o que acabou sendo um risco”, registra.

O risco sobre o qual ele se refere seria a mudança de rota que os personagens, bem como a equipe técnica, estavam sujeitos durante o processo. “Sem dinheiro, filmávamos nos dias livres. Aí aconteceu, por exemplo, de um personagem morrer, ou de outros conseguirem emprego. Eu mesmo sofri um acidente grave de bicicleta, e só pude voltar meses depois”.
 
Nostalgia
 
Maurício Chagas se espantou quando assistiu ao filme pela primeira vez. “Estávamos muito diferentes. Eu era desse tamanho (pequeno)”, indica o rapaz, que, na época, tinha o apelido “De Menor”. “Apesar de serem jovens, o filme criou neles uma espécie de ‘nostalgia’”, completa Affonso.

Na verdade, muita coisa mudou depois que Affonso os encontrou (“por pura sorte”), cruzando o caminho daquele que seria, inicialmente, o protagonista (Guim). “Como deixávamos a coisa ‘solta’, sem parar de filmar, eles entraram na história porque apareceram no momento certo – e mostraram naturalidade”, explica.

Para Wederson, o mais difícil era repetir as cenas. Apesar de parecer um documentário, o filme, na verdade, é um híbrido. Affonso se valia de situações reais e pedia para repetirem diante das câmeras, burilando os diálogos.

“A ficção, nesse caso, ajudava a ser mais real, iluminando algumas questões”, explica o diretor. O mais importante, para ele, é mostrar um outro lado da periferia. “Há perigos? Sim, mas também diversão”. Tanto é assim que, agora, Maurício se sente uma espécie de porta-voz da periferia. Estofo, ele tem de sobra.

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