Filme chileno é um dos destaques da temporada

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
06/09/2017 às 16:50.
Atualizado em 15/11/2021 às 10:27
 (IMOVISION/DIVULGAÇÃO)

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Com “Uma Mulher Fantástica”, em cartaz a partir de hoje nos cinemas, o diretor chileno Sebastián Lelio põe novamente a família como o tema central da narrativa, presente também em “La Sagrada Familia” (2005) e “Gloria” (2013), filme que lhe rendeu diversos prêmios.

A família, neste caso, deve ser entendida como um conceito ultrapassado, cujo modelo tradicional está falido diante das transformações da sociedade em relação aos papéis da mulher e do homem, à luta contra a heteronormatividade e à velhice como aceitação do fim da vida.

Desapropriação

Cada um destes elementos são discutidos em seus trabalhos, separadamente, mas “Uma Mulher Fantástica” reúne tudo numa mesma história, quando um senhor de 57 anos, de origem rica, larga mulher, filhos e amigos para viver com a jovem transexual Marina.
Na realidade, acompanhamos essa relação num momento posterior, depois da morte do executivo, quando o modelo tradicional burguês se impõe com a sua força, através da desapropriação não só dos bens materiais de Marina como de sua identidade também.

Tudo o que a personagem conquistou, podemos imaginar, para afirmar a sua opção parece caminhar num sentido inverso, apontando para, além do preconceito ainda existente, leis e instituições (a polícia principalmente) que sustentam o status quo.

Lelio constrói a sua narrativa a partir do “ataque” ao corpo de Marina–aquilo que é, em essência, sua única propriedade de fato. É a partir daí que o filme se amplia, com Marina podendo ser substituída por qualquer pessoa que sofre com abuso de poder, seja de gênero ou social.

A atuação de Daniela Verga, muita elogiada no último Festival de Berlim, contribui para que o podemos definir como “lutas de classes”, já que a resposta da protagonista está no não fraquejar e na permanência do sonho, estampada na imagem das Cataratas do Iguaçu.

Assim, surge uma personagem digna, não estereotipada e que, como qualquer outro, só deseja viver seu amor, num formato dramático que nos remete aos filmes de Douglas Sirk, em que a sociedade rompe a aparente tranquilidade para apresentar o seu lado mais cruel.

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