Filme de Polanski estreia no Brasil após diretor entrar na mira do #Me Too

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
Publicado em 12/03/2020 às 08:54.Atualizado em 27/10/2021 às 02:55.
 (CALIFÓRNIA FILMES/DIVULGAÇÃO)
(CALIFÓRNIA FILMES/DIVULGAÇÃO)

Uma das principais estreias desta quinta-feira (12), no cinema, “O Oficial e o Espião” é um dos filmes mais comentados do ano. E não necessariamente pelas qualidades da produção – que, sim, merecem louvor. Mas pelo nome que assina a direção: Roman Polanski.

Com o fortalecimento do movimento #MeToo no cinema mundial, que tem como epicentro as acusações de abuso sexual do produtor Harvey Weinstein, o cineasta se viu novamente sob ataque, 43 anos após ser condenado por estuprar uma menina de 13 nos Estados Unidos.

É quase impossível não criar uma relação entre autor e obra, já que a história de “O Oficial e o Espião” relata um fato que dividiu a França na virada do século 19 para 20, sobre um capitão do Exército que, por ser judeu, é vítima de uma trama que o leva à prisão perpétua.

Não é o caso de afirmar que Polanski, aos 86 anos, busca, com o filme, se defender, vendo-se como injustiçado (uma leitura possível em vários de seus trabalhos), especialmente em relação às acusações mais recentes de que teria feito mais vítimas.

A divisão se dá com as reações a “O Oficial e o Espião”, que vão da tentativa de boicote ao lançamento, assim como as fortes manifestações durante a premiação do Cesar (o Oscar francês), à boa acolhida da crítica e dos festivais à produção.

O filme é um dos mais vistos do ano em território francês, ampliando a discussão sobre se deve ou não separar obras de qualidade artística dos atos cometidos pelos autores. Discussão que vem associada a outro diretor de prestígio, Woody Allen, também no foco do #MeToo.

O que mais se destaca no longa é a maturidade de Polanski na criação de um constante clima de tensão, em que, desde o primeiro instante, fica claro que uma verdade está sendo ocultada, após um oficial descobrir que as provas contra o capitão judeu haviam sido forjadas.

O diretor atualiza este contexto, ao comentar que verdades que são distorcidas de acordo com a vontade das autoridades, manipulando a opinião pública e estimulando a violência no país. Na época, criou-se um mal-estar que se alojou por anos em famílias e círculos de amizade.

O desfecho faz entender que, até hoje, tanto os órgãos de segurança como a Justiça se orientam pelos interesses de uma certa elite, alertando para a grande dificuldade que é ao se fazer um movimento contrário, mesmo que em função de uma verdade.

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