Filme exibido em Tiradentes registra amor às artes

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
24/01/2018 às 14:54.
Atualizado em 03/11/2021 às 00:56
 (Jackson Roomanelli/Universo Produção/Divulgação)

(Jackson Roomanelli/Universo Produção/Divulgação)

TIRADENTES –Frustrado profissionalmente, indeciso sobre investir nas artes, sua paixão, ou num curso de três meses em Química em Sttutgart, na Alemanha, Fernando Bohrer abriu a janela de seu apartamento, olhou para baixo para constatar se machucaria alguém e já se preparava para pular quando foi interrompido por um estrondo violento.

 “Era um trovão. Em seguida, começou a chover forte e a molhar tudo dentro do apartamento. Dos meus úteros internos começou a vir (a constatação de) que eu era um artista, um artista 24 horas por dia. Uma maldição benta!”, recorda Bohrer, no dia seguinte à exibição do documentário “Fernando”, apresentado na noite de domingo na 21ª Mostra de Cinema de Tiradentes.

 Dirigido por Igor Angelkorte, Julia Ariani e Paula Vilela, o filme é um registro deste amor do hoje professor de teatro da Casa das Artes de Laranjeiras, no Rio de Janeiro. “A partir dele, criamos um retrato mais profundo do ser artista, do fazer arte. 99,9% dos artistas são anônimos e sentimos que precisávamos iluminar essas pessoas, fundamentais para a cultura e a educação de um país”, afirma Angelkorte.

 O diretor foi aluno de Bohrer há dez anos e lembra das impressões que teve no primeiro dia de aula. “A maneira como ele dá aula é revolucionária, fazendo uma roda e com todos descalços. Assim que cheguei à sala, fui cumprimentá-lo e Fernando me deu um abraço de corpo inteiro de boas vindas, tocando peito, coxa, sexo, joelho. Tive professores que nunca deram um toque sequer”.

 Bohrer observa que não possui crenças, mas não abre mão da fé. “A crença é relativa, já a fé é participação e entrega, digna de um abraço inteiro. É como chamar para participar, algo muito importante do processo artístico. O artista não é isolado, sendo muito maior que isso”, observa o professor, para quem é a arte é sinônimo de semear, esperando crescer.

 Num sentido literal, foi assim que ele percebeu a importância de sua profissão, ao partir para o interior do Rio e cuidar de uma chácara, onde criou uma escola de artes para crianças. “Fui expulso da cidade porque pelos pais porque elas passaram a ter um senso crítico em relação a tudo. Quinze anos depois, aquelas crianças, já adultas, vêm ao meu encontro para me ver e agradecer”, recorda Bohrer.

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