Francisca Manuel ficou cinco meses em Belo Horizonte, viajou pelo país e retornou à Portugal, sua terra natal. Quatro anos depois, pôs novamente os pés na capital mineira, desta vez para passar um pouco do que viveu como imigrante em “A Cidade Onde Envelheço”, cartaz a partir de hoje nos cinemas.
O filme não é um documentário, mas Marília Rocha, uma das grandes documentaristas do país, absorve muitos de seus ingredientes. A começar pela protagonista. Assim como a Francisca da telona, ela realmente recebeu uma conterrânea em sua casa. No filme, dessa interação surgem os conflitos.
“Vim para cá em 2011, época em que conheci a Marília. Convivia com outras duas portuguesas e foi essa vivência que serviu de base para a direção da personagem. O sucesso do filme tem muito a ver com o processo de pesquisa do roteiro, com o trabalho de Marília como documentarista”, registra Francisca.
Para Francisca, o filme é autobiográfico, já que Marília Rocha é uma migrante, nascida em Goiânia (GO). “Eu e a Elizabete fomos um veículo para ela mostrar esse olhar do estrangeiro sobre a cidade”, diz
A portuguesa de 32 anos, que hoje reside em Lisboa, ressalta que nunca tinha atuado antes, tendo sido de vital importância a maneira como a cineasta conduziu o trabalho com as duas portuguesas – a outra é Elizabete Francisca Santos, no papel de uma antiga amiga, Teresa, que vem para BH e se hospeda na casa de Francisca.
A relação entre as duas começa mal. Independente, Francisca não esconde o desconforto com a hóspede, uma garota que chega com a ideia de descobrir um novo mundo, sensação pela qual a anfitriã já tinha passado. Para esse personagem, a produtora Terra Treme, de Portugal, fez o casting no país europeu.
Espontaneidade
“Eu só tinha feito palco, mais dança. Nada assim como cinema”, lembra Elizabete, que conheceu sua futura “amiga” ainda em solo português. “Fiz uma cena com a Francisca numa praia, conversando sobre a possibilidade de ir ao Brasil. Foi então que a Marília viu que havia uma relação espontânea entre nós”, lembra.
As duas recordam de um momento da filmagem que ajudou a dar maior realismo, quando Teresa chega à casa de Francisca, no centro de BH. “Ali realmente foi a primeira vez que entrei na casa”, conta Elizabete. Antes, Francisca ficou dez dias morando de verdade no local, mobiliando a casa de acordo com o seu gosto. “Para sentir que era minha mesmo”, lembra.
Em 2011, o local que Francisca morou foi o bairro Santo Agostinho, mas ela observa que transitava muito pelo Centro, frequentando o Parque Municipal e os botecos. “O que mais gosto da cidade são as pessoas, os mineiros. É um povo que nos recebe bem e não é histriônico. Estar num boteco é falar da vida, de cinema... É muito rico”.