As primeiras imagens de “Manchester à Beira-mar” envolvem uma longa sequência do cenário gélido da cidadezinha de New Hampshire que recebe o conflito principal do filme, outro título que estreia nesta quinta-feira e que deverá despontar na lista de indicados ao Oscar.
Outras cenas contemplativas como essa pontuarão a produção, o que, muitas vezes, acaba sendo um recurso desnecessário, que “briga” com aquilo que o filme tem de melhor: o trabalho de seu elenco, forte, duro, que parece interiorizar a aspereza do lugar.
A edição parece sempre querer jogar a atenção do espectador para fora do claustrofóbico embate familiar protagonizado por Lee (Casey Affleck) e seu sobrinho, como se fosse buscar um respiro e um tempo de reflexão para o que está explícito nos rostos.
Não é só com essas sequências “de passagem” que o filme aparenta ser tão calculado, injetando doses exatas para que a emoção aflore aos poucos.
Enquanto Lee, que, no papel de zelador, de cara mostra-se um sujeito estranho e antipático, retorna à cidade natal para o enterro de seu irmão, a narrativa retroage, jogando pequenas informações, em busca das razões desse comportamento.
Sabemos que algo aconteceu, que as famílias dos dois irmãos foram fraturadas. Há uma tragédia que justifica todas as recusas de Lee. O filme é, em síntese, sobre isso: a recusa do zelador em compartilhar, em reatar ou criar outra família.
Casey, irmão de Ben Affleck, está ótimo, carregando a dor de quem sofre com a culpa, morrendo a cada dia. Aguardamos mais de duas horas para ouvir dele uma frase sobre o que lhe devora internamente. O filme não precisava mais do que isso.