Filmes e séries atraem público para o universo dos mortos-vivos

Thais Oliveira - Hoje em Dia
Publicado em 27/04/2015 às 06:18.Atualizado em 16/11/2021 às 23:47.
 (Wesley Rodrigues)
(Wesley Rodrigues)

Apontada como uma febre e, portanto, logo passaria, a temática zumbi vem mostrando que está longe de perder as forças. Uma das maiores provas disso é a aclamada série “The Walking Dead”, que soma milhares de fãs mundo afora e, em maio, deverá começar a produção de sua 6ª temporada. Além de seriados, atualmente, os zumbis se tornaram personagens centrais de livros, games, quadrinhos, eventos e, mais recentemente, até de pegadinha do programa Sílvio Santos.

No entanto, não é de hoje que uma trama é armada em cima dos mortos-vivos. Em 1932, Victor Halperin teria dirigido o primeiro filme sobre o tema, intitulado de “White Zombie”. Mas a tendência – conhecida também como zumbimania – se intensificou mesmo em meados de 2011, quando uma “profecia” se alastrou dando conta de que o mundo chegaria ao fim em 21 de dezembro do ano seguinte.

Com tanto material publicado sobre a “tragédia anunciada”, o repórter fotográfico e estudante de Psicologia Amir Nadur Spike, de 36 anos, que já era fissurado por séries e games sobre o assunto, ficou assombrado com a ideia. “Pensei: se o mundo vai acabar em 2012, tenho que preparar logo uma equipe antizumbis para o que pode acontecer”, afirma. E, para quem não ligou uma coisa a outra, a explicação: nas ficções, em geral, uma catástrofe acaba com o planeta e, na melhor (ou pior) das hipóteses, boa parte dos humanos transforma-se em mortos-vivos.

Resgate

Junto a dois amigos bombeiros civis, Spike criou o Zombie Control – serviço de resgate para socorrer vítimas em qualquer situação, com direito a viaturas equipadas e armaduras contra mordidas de zumbis. “Incêndio, afogamento, tiroteio... Estávamos prontos para o que desse e viesse, pois ninguém tinha certeza de como seria o fim do mundo”, diz Spike. Ele jura que tudo não passava de uma brincadeira, mas foi só apertá-lo mais um pouquinho para ele se entregar. “Sabe aquela coisa de ‘a vida imita a arte’? Minha teoria é que tudo que aparece na mídia vai aparecer na vida real”, confidencia.

Passada a tão aguardada data da “profecia” – e vendo que a Terra continuava exatamente como dantes – veio a dúvida: o que fazer com tanto material?
“Continuo rodando com o meu carro caracterizado de zumbi – o que, inclusive, já assustou muita gente por aí –e tenho tudo pronto para atuar no fim do mundo. Afinal, nunca se sabe quando irá acontecer, né?”, brinca Spike.

‘Debates político-filosóficos e críticas ao consumismo alienado’

O analista judiciário Pedro Henrique Machado, de 30 anos, é mais um dos fissurados pelo universo zombie. Um dos seus programas favoritos é assistir a série “The Walking Dead”. “Acho o enredo brilhante, porque equilibra tramas shakespearianas, debates político-filosóficos, críticas ao consumismo alienado e, principalmente, metáforas sobre nossa condição existencial”, destaca.

Já no caso da musicista Nathalia Castro, de 29 anos, são os games os seus preferidos. “Comecei a jogar poucos anos após o surgimento do primeiro jogo do ‘Resident Evil’. Isso já faz uns 17 anos”, recorda. E, basta dar uma olhada na casa dela para perceber que o gosto pelo tema vai muito além do vício por jogos. “Tenho camisetas e caneca de zumbis e uma coleção de bonecos do jogo ‘Residente Evil’”, contabiliza ela, que já até se fantasiou de zumbi para uma festa.

Como explicar a febre?

Na maioria das histórias, os zumbis surgem como resultado de alguma doença ou vírus. Imediatamente após a transformação, as criaturas ficam sedentas por carne humana e, então, uma saga em busca da sobrevivência de ambos os lados se inicia. Nada agradável, não é mesmo? Então, por que as pessoas gostam desse tema macabro? “Acho que tenho um certo medo de que o mundo termine assim e, por mais estranho que seja, isso me atrai”, afirma Nathalia.
Já o que chama a atenção de Pedro são as reações humanas em meio ao caos. “Todas as mazelas próprias da humanidade, como a segregação, a intolerância e o egoísmo, estão presentes para demonstrar que – mesmo em um mundo apocalíptico – as grandes ameaças não são os seres rastejantes, mas nossos sentimentos mais sombrios”.

O psicólogo Heráclito Aragão Pinheiro acredita, no entanto, que a sedução por este universo está no inconsciente das pessoas. Para ele, mesmo que seja numa terra devastada, o humano não aceita a ideia de ser excluído da eternidade e prefere sobreviver a qualquer custo. “Há um vazio existencial tão grande, que, qualquer mudança é bem vinda para que se possa voltar a se sentir vivo, mesmo que seja em meio a uma destruição total”, esclarece.

Caminhada de zumbis

Já virou tradição em BH a realização da Zombie Walk, no Dia de Finados, em 2 de novembro. Com trajes esfarrapados, maquiagem que simula ferimentos, queimaduras e muito sangue, centenas de pessoas costumam sair, neste dia, pelas ruas da região Centro-Sul da cidade. Conforme os organizadores do evento, que é feito desde 2007, a caminhada é um flash mob que objetiva a diversão.

Pioneirismo

Apesar de ser antiguíssimo no cinema, o gênero demorou para chegar à literatura brasileira. De acordo com o escritor Alexandre Callari, ele foi o primeiro a lançar um livro com a temática, em 2011, chamado de “Apocalipse Zumbi – Os Primeiros Anos”, da editora Évora. A obra é, na realidade, o primeiro de uma trilogia, composta também por “Apocalipse Zumbi – Inferno na Terra”, de 2013, e “Apocalipse Zumbi – Depois do Fim do Mundo”, que deverá sair no segundo semestre deste ano.

“A história é centrada num grupo de sobreviventes que tenta encontrar uma maneira de viver no mundo após o holocausto ter devastado a maior parte da população. As pessoas ainda têm de lidar com outros grupos que, em vez de batalharem para conseguir seu lugar ao sol’, preferem tomar delas o que conquistaram. É uma história sobre monstros, mas principalmente sobre as reações humanas quando em situações extremas”, afirma o escritor.

Callari é ainda autor de outros dois livros sobre o assunto – “Zumbi de A a Z” e “Universo Zumbi”, publicados pela editora Discovery. O escritor explica que tanto interesse pelo tema surgiu há muitos anos devido ao gosto por filmes e livros de terror. “Queria dar a minha contribuição ao gênero e também suprir uma lacuna no mercado editorial brasileiro que, embora hoje esteja inundado de livros sobre zumbis, na época do lançamento do meu primeiro livro, ainda estava carente”, diz.

Lançamentos

Estreou nos Estados Unidos, na última quinta-feira, o longa-metragem “Maggie”, do diretor britânico Henry Hobson. No filme, o astro Arnold Schwarzenegger vive um fazendeiro que batalha pela sobrevivência da filha, que é infectada por uma epidemia e transforma-se em zumbi.

Chegou às livrarias, também na última semana, o livro da série Crônicas dos Mortos, “A Senhora dos Mortos”, de Rodrigo de Oliveira e publicado pela Faro Editorial. Conforme a editora, a trama gira em torno de um ser humano dotado de um dom extraordinário, que, ao ser contaminado por zumbis, se transforma no Anticristo. O problema é que a memória dele dos últimos momentos como humano continua viva e, agora, tudo o que ele quer é vingança e destruição.

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