(Glenio Campregher)
A 12ª edição do Festival Internacional de Teatro de Palco & Rua (FIT) teve início no dia 13 deste mês com dois caminhos diferenciados: o foco na produção local e a busca pela atenção dos cidadãos não iniciados nas artes cênicas. Em uma conversa nesta segunda-feira (26) com o Hoje em Dia, os líderes do festival garantiram que os objetivos foram cumpridos nas três semanas de evento, encerrado no último domingo (25).
“Obviamente, é normal avaliarmos que o festival precisa de mais espetáculos, de uma melhor comunicação, mas o mais importante é compreender que o evento foi realizado dentro de uma lógica da diversidade”, afirma o presidente da Fundação Municipal de Cultura (FMC), Leônidas Oliveira. “Foi como um concerto, abrindo de forma calma com a produção local, crescendo e tendo o Berliner Ensemble como ponto alto e encerrando em clima de festa, com o cabaré do Glory Box”.
Segundo ele, o planejamento realizado em um ano foi fundamental para que o festival tivesse mais apresentações do que os anteriores e um orçamento menor – aproximadamente R$ 7 milhões. Além de conseguir custos mais baixos para cachês e passagens, o planejamento permitiu parcerias – como a vinda de “Hamlet”, do Berliner Ensemble, onde o Ministério das Relações Exteriores da Alemanha entrou com 80 mil euros e o festival com 50 mil euros.
Para o próximo FIT, em 2016, que começa a ser planejado desde já, a FMC poderá contar com outras parcerias, como Uruguai, França e Cuba – países que já assinaram cartas de intenções com a Prefeitura de Belo Horizonte.
Edital de descentralização
A Fundação Municipal de Cultura lança em breve o edital Descentracultura, dedicado a grupos de artes cênicas desenvolvidos em bairros que não estão na Região Centro-Sul. De acordo com Leônidas Oliveira, R$ 1 milhão serão usados para beneficiar 50 projetos.
Outra novidade anunciada pelo presidente da FMC é que a gestão do FIT 2014 deverá preparar uma memória de tudo que aconteceu no festival. Segundo ele, das edições anteriores, só restaram documentos de prestações de serviço. Não há relatórios de produção.
Destaques
A maioria dos espetáculos de palco tiveram casa lotada, mas dois tiveram uma enorme procura, levando o festival a realizar sessões extras (custeadas pelo dinheiro arrecado com a bilheteria): “Concerto para Bebês” e “Glory Box”. O primeiro atraiu a atenção por trabalhar uma faixa etária invisível à produção teatral (de 0 a 3 anos), enquanto o segundo levou ares de cabaré para o Music Hall – em torno de 3 mil pessoas conferiram a peça australiana em cinco dias.
“As atrizes do ‘Glory Box’ disseram que nunca viram público tão participativo quanto o belo-horizontino. No fim de semana, as pessoas levantavam e aplaudiam o tempo todo as apresentações”, conta o coordenador do FIT, Cássio Pinheiro.
Curadoria rebate a crítica de iniciados
O FIT recebeu críticas ao longo da realização da 12ª edição por parte de pessoas do universo do teatro, especialmente sobre a qualidade de alguns espetáculos. O curador Jefferson da Fonseca rebate.
“É muito difícil fazer uma avaliação desse FIT porque não houve uma concentração de apresentações na região Centro-Sul. O FIT não foi feito para meia dúzia de entendidos, mas para pessoas que já compraram seus eletrodomésticos e agora querem consumir arte”, diz o curador, citando a apresentação do Grupo Galpão no Aglomerado da Serra como exemplo de sucesso, já que a grande maioria do público era formada por pessoas da comunidade. “Fechamos o FIT de maneira simbólica”.
De acordo com Leônidas Oliveira, a orientação curatorial está de acordo com o Plano de Cultura definido para o município, onde a diversidade e a inclusão são definidas como prioridade. “O FIT deve atrair também os iniciados, mas para se investir R$ 7 milhões, é preciso pensar no que é melhor para a cidade como um todo”, diz.
A inclusão também foi estendida às escolas – cerca de 5 mil alunos de escolas públicas foram levados aos espetáculos, inclusive a “Hamlet”, no Palácio das Artes. O projeto “Porta a Porta”, em que 20 atores/palhaços foram para estações de metrô e bairros da periferia convidar pessoas a conferir o FIT, também foi bem avaliado e poderá crescer em 2016.