A morte do cantor Nelson Ned, hoje, repercute entre artistas e personalidades da música brasileira. Autor do livro "Eu Não Sou Cachorro, Não! Música Popular Cafona e Ditadura Militar", o pesquisador e escritor Paulo Cesar de Araújo destacou o aspecto singular das canções de Nelson Ned.
"Foi um gigante da música brasileira, autor de canções que estão no inconsciente coletivo nacional. Foi um compositor original, nos temas que abordou, na maneira como abordou", disse. Segundo Araújo, entre os inúmeros fãs que Ned teve na América Latina, um deles ocupa lugar especial: o escritor colombiano Gabriel García Márquez, vencedor do Nobel de Literatura.
"Os intelectuais brasileiros se surpreendiam com as declarações de García Márquez sobre Nelson Ned. Ele chegou a dizer que, se sua literatura fosse música, seria um bolero cantado por Nelson Ned."
Para Araújo, na década de 60, 70, e 80, quando estava no auge, Nelson Ned sofreu preconceito das elites culturais do país.
"Ele era uma das pessoas mais inteligentes que conheci, e olha que entrevistei a música brasileira quase inteira. Tinha um raciocínio rápido, tiradas de humor, fantástico. Fez sucesso na América Latina, nos Estados Unidos, no México, na África, foi astro internacional. Só que, no Brasil, havia preconceito contra o brega."
Para o cantor Agnaldo Timóteo, que gravou músicas de Ned, o "pequeno gigante", como ele era conhecido, era o "segundo maior ídolo brasileiro na América Latina".
"O Nelson Ned só ficava atrás do Roberto Carlos. Eu fui vê-lo cantar no palco, no México, no Hotel del Prado, e em Nova York, e vi o que ele representava. A morte dele foi diferente da morte do Reginaldo Rossi, que estava cercado pela sua família, estava na sua terra [Recife]. O Nelson Ned morreu muito afastado da mídia. Vamos torcer para Jesus Cristo dar a ele ternura", disse Timóteo.