Um musical abordando a crise do cinema e a perda de antigos valores, com um romance de pano de fundo. “La La Land – Cantando Estações”, estreia dessa quinta-feira nos cinemas e forte candidato ao Oscar 2017, tem enredo semelhante a “Cantando na Chuva” (1952) e a “O Artista” (2012).
É um tema sensível não só aos acadêmicos, saudosos de um tempo em que o cinema era um divertimento sem concorrentes, como também de uma parte da sociedade preocupada com a velocidade como as coisas perdem o seu valor, como uma tranqueira a ser descartada.
Em determinado momento, o protagonista e pianista Sebastian (Ryan Gosling) parece sintetizar esse pensamento, ao dizer que as pessoas hoje veneram muito e não valorizam nada, numa crítica possivelmente à indústria do consumo alicerçada pelas redes sociais.
Sebastian é fã de jazz, tendo que fazer bicos em restaurantes que só querem uma música ambiente. Ele encontra Mia, uma garçonete que busca um lugar ao sol em Hollywood como atriz. Em comum, a luta para compreender esse estado de coisas e fazer valer o seu ideal.
Constante recomeçar
Esse ímpeto é o ponto de aproximação, o que torna esse romance tão almejado quanto a força de vontade para materializar os seus sonhos, que, veremos, serão adaptáveis, sujeito a tantas interpretações e mudanças quanto aquelas que acontecem na vida real.
Talvez seja essa a contribuição do jovem diretor Damien Chazelle ao formato. Não se trata de um musical circular como “Cantando na Chuva” ou “O Artista”. Chazelle repete a premissa de seu trabalho anterior, “Whiplash: Em Busca da Perfeição” (2014), ao enxergar nos desvios o grande aprendizado.
E isso é perceptível no sorriso trocado por Seb e Mia na tocante cena final, em que um gesto resume todo um pensamento sobre relações e passado. Interessa o caminho e não o desfecho, como as quatro estações que se repetem a cada ano, num constante recomeçar.
Sem perder a Ternura
A música é simbólica dessa abordagem. Em “Whiplash”, as batidas na bateria vão da exasperação à beleza, dos gestos bruscos e fortes à poesia do som. Em “La La Land”, há o caos, a desafinação e a artificialidade inerente aos musicais (ninguém dialoga cantando). E também ternura.
O que talvez incomoda nesse filme é, num tom mais explícito do que “Whiphash”, enaltecer o sacrifício numa terra de grandes oportunidades como os Estados Unidos. Todos têm o seu espaço, seu lugar nesse mundo, bastando aceitar a dor dessa busca que a hora chegará.