Um grupo de amigos e companheiros de profissão do fotógrafo pernambucano Alexandre Severo (1978-2014) se reuniu durante toda esta quarta-feira em Recife para lembrar das histórias do amigo - vítima no acidente de avião que matou a ele, ao candidato à presidência da república Eduardo Campos e a mais outras cinco pessoas.
"Somos da mesma geração, então, sempre tratamos de cuidar uns dos outros. O que fica de Alexandre é o amor, a forma com ele tratava as pessoas. Ele certamente seria um mestre, só não teve tempo para sê-lo, mas a sua memória está guardada e é certo que faremos uma homenagem, uma exposição, com sua obra", assegurou o fotógrafo Beto Figueiroa em entrevista de Recife.
A morte do fotógrafo também reverberou país afora. Em Belo Horizonte, Eugênio Sávio, coordenador do Festival de Fotografia de Tiradentes e do Foto em Pauta, destacou que Alexandre era muito jovem e dedicado. "Partiu para São Paulo em busca de melhores oportunidades para avançar seu trabalho autoral", recordou. A maior preocupação do colega, segundo Eugênio, era viabilizar suas pesquisas como artista.
De São Paulo, o fotógrafo Gilvan Barreto também falou ao Hoje em Dia logo que desembarcou na cidade cinza. "Acabei de chegar aqui em São Paulo sob a mesma chuva. E, neste momento, eu quero falar sobre a pessoa de Alexandre: um homem batalhador, atencioso e sensível".
Alexandre Belém, da equipe de curadores do Festival de Tiradentes, lembrou do amigo que conhecera ainda no jornal do Commércio, em Pernambuco. "Dessa geração de fotógrafos de Pernambuco ele era um dos mais brilhantes. Quando o conheci ele ainda era estagiário, mas tinha todo talento para já ser repórter especial. Um fotógrafo que nasceu preparado para tudo, era entusiasmado e gente boníssima, doce. Quando o vi, pela última vez recebi um abraço forte, um beijo. Alexandre era um sonhador a procura do seu caminho", disse emocionado.
Entre os trabalhos de destaque está a série "À flor da pele", o ensaio "João de Deus", "Nações Unidas" e "Amor de verdade". Alexandre chegou a publicar fotografias na revista Time. Expôs trabalhos na 5ª Bienal Argentina de Fotografia Documental, Paraty em Foco, em 2009, e Tate Modern, em Londres.
No seu site (http://alexandresevero.tumblr.com/), Alexandre escolheu um trecho do livro "Vermelho Amargo", de Bartolomeu Campos de Queirós, para definir seus dias e trabalho. "Há dias em que o passado me acorda e não posso desvivê-lo. Esfrego os olhos buscando desanuviar a manhã que embaça o dia. Deixo a cama carregado pelos fatos. Encaminho-me à cozinha sabendo não encontrar brasas cobertas de cinzas. Sorvo um pouco de café, e o sabor do quintal de meu avô já não me vem à boca. Sem possuir um olho de vidro, diviso o mundo vivido do mundo sonhado, com a nitidez da loucura. Meu real é mais absurdo que minha fantasia. O presente é a soma de nostalgias, agora irremediáveis. A memória suporta o passado por reinventá-lo incansavelmente. Tento espantar o presente balbuciando uma nova palavra. Tudo é maio, tudo é seco, tudo é frio".