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Uma das melhores maneiras de perdoar os pais é tornar-se um, advoga Francisco Bosco, convidado desta quarta (29) do projeto “Sempre um Papo” – que acontece às 19h30, agora no MM Gerdau – Museu das Minas e do Metal (Praça da Liberdade s/nº). A entrada, vale lembrar, é gratuita. O autor volta à capital mineira na esteira da maratona de lançamento do livro “Orfeu de Bicicleta – Um Pai no Século XXI” (Foz Editora).
A obra parte da experiência do autor carioca – poeta, letrista e filósofo, doutor em teoria da literatura, com tese sobre Roland Barthes, pela UFRJ. Pai de dois filhos pequenos – Lourenço e Iolanda, do casamento com Antonia Pellegrino – ele compartilha, com o leitor, espantos, insights, indecisões e contradições.
“São muitos os desafios”, diz, ao Hoje em Dia, sobre a função. “Um deles é criar futuros cidadãos com consciência política da sociedade injusta em que vivem, para que não reproduzam os mecanismos cotidianos e institucionais que perpetuam essa desigualdade”, pondera Bosco, que se considera um pai contemporâneo, que divide (“radicalmente”) a responsabilidade pelos filhos com a mãe. “Com tudo o que há de profundamente amoroso – mas também de irritante e desgastante nisso”, brinca.
Embora hoje confesse se dedicar mais a escrever ensaios, Francisco Bosco diz considerar-se, “de certo modo”, ainda um poeta. “A poesia (ao menos a que mais me interessa) é um gênero diretamente ligado à vida, às experiências concretas, e eu escrevo a partir de acontecimentos impactantes na minha vida”.
Este livro, completa, veio dessa prática, dessa necessidade mesma de interpretar, “de dar sentido ao que me acontece”.
Na primeira parte do livro, o autor faz um breve estudo sobre as transformações do papel social da criança, da Idade Média aos tempos de hoje, quando os infantes, entende, são tratados como pequenos reis nos restaurantes.
Funarte
Filho do cantor e compositor mineiro João Bosco com a artista plástica Angela, Francisco Bosco é, atualmente, o nome à frente da Fundação Nacional de Artes, a Funarte. E como está o trabalho? “Estimulante e fatigante, nessa ordem. Estamos trabalhando numa temporalidade imediata, claro, mas também numa narrativa mais ambiciosa, a Política Nacional das Artes. O objetivo é criar uma mobilização dos setores artísticos para atualizarmos e implementarmos as propostas dos Planos Setoriais elaborados pelos Colegiados Setoriais ao longo dos últimos dez anos”.
O trabalho consome seu tempo mental quase integralmente, confessa. “Tanto que não pretendo escrever com assiduidade nos próximos anos”.