Futebol invade o Mineirão, mas não no gramado

Paulo Henrique Silva - Hoje em Dia
03/12/2015 às 07:12.
Atualizado em 17/11/2021 às 03:11
 (Cinefoot/Divulgação)

(Cinefoot/Divulgação)

A bola começa a rolar no Mineirão a partir desta quinta (3). Mas não entre as quatro linhas do gramado. O jogo será disputado em outra parte do estádio, numa sala de cinema que faz parte do Museu Brasileiro do Futebol. É lá que serão exibidos os 16 filmes que integram a programação do Festival de Cinema de Futebol (Cinefoot), que segue até sábado, dia 5.

Único festival do país a se dedicar à pelota – e realizado também em São Paulo e no Rio de Janeiro, onde é apresentada uma seleção mais ampla – o Cinefoot tem, como no cinema, boas e más histórias para contar. Lembranças de um passado de conquistas e também de vexames, antigos e novos. O mais recente é a derrota do Brasil para a Alemanha, em 2014.

A goleada de 7 a 1, na semifinal da principal competição de futebol do mundo, foi particularmente indigesta para os mineiros, que sediaram a maior vergonha do futebol brasileiro. Até parece que os diretores Anna Flávia Salles e Beto Magalhães já estavam adivinhando, quando toparam fazer um curta-metragem, “Guerra de Gigantes”, sobre os jogos em BH, para o canal Sportv.

Parte de um projeto maior, produzido por Jorge Furtado e formado por 13 curtas produzidos nas cidades que receberam as partidas da Copa, a dupla mineira já pensava numa “zebra” antes mesmo de o evento começar. “Queríamos mostrar que a Copa já havia passado por aqui, como uma das poucas capitais a receber os jogos de 1950”, destaca Beto.

Naquele ano, o Independência recebeu três jogos – e um deles entrou para a história por conta de um resultado dos mais inusitados, quando os EUA derrotaram a Inglaterra por 1 a 0. A partir desse fato, os realizadores imaginaram reunir duas gerações: aqueles que acompanharam o jogo in loco e a garotada que se preparava para ver o Brasil no Mineirão.

O resultado de Brasil x Alemanha mudou tudo. Eles aproveitaram as curiosas imagens de um repórter da Fox, que estava de folga e gravou o jogo das arquibancadas, com a perspectiva do público, para desenhar o que Beto define como a “capacidade do mineiro em gerar tragédias”, num estilo que vai da melancolia à ironia fina.

O curta também faz escala num velho conhecido dos mineiros: o clássico Atlético x Cruzeiro. “No mesmo ano desse vexame, o Atlético foi campeão da Copa do Brasil e o Cruzeiro, do Campeonato Brasileiro. Minas foi notícia com essa tragédia eterna que é a rivalidade entre os dois times. Estamos condenados a sofrer com essa disputa”.

Em foco, histórias de conquistas e também curiosidades, como ‘a pior seleção do mundo’

A programação do Cinefoot reserva curiosidades, como “a pior seleção de futebol do mundo”, foco do longa inglês “O Próximo Gol Leva”, de Mike Brett e Steve Jamison, que trás a derrota recorde (31 a 0) da ilha de Samoa para a Austrália.

O embate entre a dificuldade e o sonho também move o curta mineiro “Futebol e Sonhos”, de Sérgio Vilaça e Fábio César, que acompanha os times infantis comandados por Robertão e João Baiano, num campo improvisado na Barragem Santa Lúcia.

Uma das poucas histórias de conquista está presente no curta “URT. Mais do que um Time. Uma Paixão”, de Raphael Dylan. Apesar de culminar com um título, o filme não deixa de mostrar uma narrativa de superação e uma perspectiva daqueles que, com poucos recursos, lutam por um lugar ao sol entre os grandes do futebol brasileiro.

É o caso da URT, de Patos de Minas. Filme e time contribuíram mutuamente para o triunfo de um dos emblemas da cidade mineira. Segundo Raphael, os vídeos que ele e um grupo de torcedores passaram a postar num canal do YouTube serviram como motivação para a equipe chegar ao título do módulo II do Campeonato Mineiro, em 2013.

“Jogadores de times do interior dificilmente vestem a camisa, porque têm certeza que não continuarão ao final da temporada. Mas os vídeos que passamos a compartilhar ajudou a unir torcedores e jogadores”, destaca o diretor, que teve acesso aos bastidores do time, das viagens às preleções no vestiário.

“Fizemos um filme a partir desse material. Com a cara e a coragem, assim como o time”, assinala Raphael, que foi “vítima” do sucesso do time. Ele lamenta que, como a URT passou a disputar o torneio principal, todos os recursos foram focados para montar um grupo forte. E, nesse caso, teve que se contentar em ver os jogos da TV.

Festival de Cinema de Futebol – Deesta quinta (3) a sábado (5), no Mineirão. Programação completa no site cinefoot.org.br

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