Guilherme Mansur, um poeta entre o funk e o gradil

Elemara Duarte - Hoje em Dia*
04/06/2013 às 08:16.
Atualizado em 20/11/2021 às 18:48

OURO PRETO – O "tipoeta" Guilherme Mansur comemorou seus 55 anos, no último dia 31, na antiga Vila Rica, junto da namorada e de um amigo, tomando chá de gengibre com mel. Uma fuga do frio na cidade histórica, junto do calor de uma lareira e ao som de funks que passavam lá fora. Ali, o artista, cujo apelido ele recebeu do também poeta Haroldo de Campos, guardava o material com o qual faria a "Chuva de Poesia", no encerramento do Fórum das Letras, no último domingo (2).

"Essa chuva, por exemplo, eu faço desde 1993", pontua. Para o repeteco da intempérie das letras, feita de uma das torres da Matriz de Nossa Senhora do Pilar, ele selecionou poemas do livro "Cantaria Barroca" (1975), do poeta Affonso Ávila (1928-2012). "Esse livro tem alta voltagem poética. Affonso tinha um carinho todo especial por ele, por ser um trabalho sobre Ouro Preto, cidade que ele gostava muito", lembra.

Como você também gosta, não é? "Eu sou daqui, é uma relação diferente daquela de amor e ódio. Estou ligado à cidade visceralmente". Mas tem a ver com amor? "Eu diria amor/ódio". A cidade está muito transformada. A cidade em que eu vivi e cresci não existe mais".

E toca funk... O "batidão" alto sai do som de um carro, que passa em frente da casa do artista. "Eu vejo o funk como um grafite. É o Barroco mineiro sendo grafitado pelo funk". Mas é um grafite ou um pichação? "Aí, depende do ponto de vista e da tolerância. Eu não vejo como pichação. Vejo com estranhamento", avalia.

Janela do mundo

Mansur fala ao Hoje em Dia sobre aquilo que mais lhe diverte ultimamente, mesmo estando em uma cadeira de rodas, em decorrência das sequelas de uma doença degenerativa. "Cortina de Ferro" é um projeto fotográfico com mais de 10 mil imagens, em que Mansur ataca de voyeur, da sua sacada, para interagir com o Barroco que o cerca.

"É uma série de fotos que eu faço daqui, desse balcão de ferro batido. É um trabalho que não existe surpresa, nem início nem fim. Existe o cotidiano. Não importa a hora do dia. Eu não tenho limite para isso. Vou fazendo, fazendo, fazendo, fazendo... Ainda não sei qual é o suporte em que vou apresentá-lo".
Mansur diz que não vai editar a série e que, pelo volume, o resultado – ou parte dele – será mostrado virtualmente.

Então, você que visita Ouro Preto: quem sabe seu caminhar distraído pelas ruas não vira inspiração para mais uma façanha artística de Mansur, seja pela chuva ou pelo olhar.


*A repórter viajou a convite do Fórum das Letras de Ouro Preto.

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