História do samba ‘made in’ Minas Gerais relatada em almanaque

Pedro Artur - Hoje em Dia
28/02/2014 às 07:48.
Atualizado em 20/11/2021 às 16:20

(Vozes do Morro)

Não é exagero dizer que, após um hiato, o Carnaval em Belo Horizonte voltou a exibir fôlego. Os blocos voltaram a ocupar as praças e ruas da cidade, o tradicional desfile retorna à icônica avenida Afonso Pena... E a capital mineira passa a ser novamente uma referência no país quando o assunto é a folia momesca.

Em meio a todo esse cenário de fato animador, porém, há uma lacuna: não existem, no mercado, muitas publicações acerca das facetas dessa manifestação popular em plagas locais, muito menos do samba “produzido” na “terceira capital brasileira”. Uma situação bem diferente de outros centros – especialmente, do Rio de Janeiro. Para mudar essa chave, o jornalista e pesquisador Zuzileison Oliveira Moreira, ou simplesmente Zu Moreira, se empenhou. E prepara para lançar o almanaque “BH tem Samba: Perfil de Sambistas Mineiros”.

Nesse projeto, o jornalista de 40 anos (com experiências em várias redações há pelo menos 16), procura traçar a linha do passado e presente do samba em BH.

“Com essa eferves-cência do carnaval, com os blocos de ruas, as pessoas já estão de alguma forma preocupadas em fazer o resgate da memória da folia. Atualmente, existem projetos focados na área de audiovisual; sambistas da Velha Guarda retratados em documentários. Mas a cidade ainda carece – e merece – de uma pesquisa que possa ser disponibilizada em escolas, bibliotecas, centros culturais”, explica. E vai além: “Há muita coisa (em jornais antigos) que fala do passado, mas não há material que relaciona esse passado com outras gerações e com o presente”.

À espera da aprovação do projeto em leis para poder dar início à captação de recursos, o livro seria editado ainda neste semestre – a ideia é que possa ser distribuído de graça. Do contrário, a obra seria custeada com recursos próprios e lançada em 2 de dezembro, quando se comemora o Dia Nacional do Samba.

Outro motivo para batalhar a publicação, prossegue Zu Moreira, é fazer um reconhecimento ao talento dos sambistas da cidade. “Há um ressurgimento do samba há pelo menos 30 anos, com expoentes como Fabinho do Terreiro, Mandruvá e Serginho Beagá, entre outros. É preciso reconhecer o trabalho feito por essa turma”, destaca.

‘O belo-horizontino está se reconciliando com o carnaval’

Em sua pesquisa, Zu Moreira considera que não há como separar as manifestações populares (carnaval, samba) da realidade do país – ou até do mundo. Para ele, a folia momesca sofreu revezes especialmente no período da ditadura militar. “Os foliões não foram às ruas se manifestarem, pois, claro, seria até incongruente brincar sabendo que muitas pessoas estavam morrendo. Então, o carnaval, nesse período, ficou de lado”, ressalta.

Para ele, o carnaval em Belo Horizonte era uma grande festa com apelo popular por conta da batalha dos confetes e, mais tarde, d os bailes em clubes. “O último grande momento desse evento foi nos anos 80 com o desfile das escolas de samba na Afonso Pena. Mas, depois, houve a descentralização do carnaval, além da invasão da axé music e dos trios elétricos da Bahia. Aí houve um esvaziamento. Agora, há um movimento espontâneo, com o belo-horizontino se reconciliando com o samba e o carnaval na cidade”.

Em seu árduo trabalho de pesquisa, o jornalista levantou o perfil de mais de 50 sambistas da velha, “média” e da “nova” Guarda. Dos sambistas mais antigos, pesquisou nomes como os de Jadir Ambrósio, Ronaldo Coisa Nossa, Zé do Monte, Mestre Conga, Gervásio Horta, Donaelisa e Dona Lúcia. Ou dos Irmãos Saraiva (Mauro, João e Plínio). Há páginas também dedicadas a Toninho Geraes, Fabinho do Terreiro, Serginho Beagá, Jussara Assis, Eliane Jeansen, Reinaldo Avelar, Mário Emílio Moura, Bira Favela, Nonato do Samba, Mandruvá, Geraldo Magnata e Mestre Afonso.

E entre o rol dos “atuais”, gente bacana como Aline Calixto, Dudu Nicácio ou os DJs Rafa da Obra e Anônimo (Israel do Vale).
 

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