Um dos maiores especialistas em cultura e herança africanas no Brasil, o historiador e escritor carioca Joel Rufino dos Santos, 73, morreu nesta sexta (4), no Rio de Janeiro, em decorrência de complicações de uma cirurgia cardíaca.
Ele estava internado na Casa de Saúde São José, no Humaitá, zona sul do Rio, onde foi operado no dia 1º de setembro para corrigir problema numa válvula cardíaca.
Filho de pais pernambucanos, caçula de uma família de quatro filhos, nasceu no subúrbio de Cascadura, zona norte do Rio. Formou-se em história na antiga Faculdade de Filosofia da Universidade do Brasil (atual UFRJ), onde também começou a sua carreira de professor.
A convite do historiador Nelson Werneck Sodré (1911-1999), trabalhou no Instituto Superior de Estudos Brasileiros (Iseb), vinculado ao Ministério da Educação (MEC).
Lá, foi um dos coautores da coleção "História Nova do Brasil", marco da historiografia brasileira lançada em 1964 e logo proibida pela ditadura, que extinguiu o Iseb e o fez deixar o país, levando-o a viver na Bolívia e no Chile.
O exílio interrompeu a sua vida acadêmica e o levou a não acompanhar o nascimento do seu primeiro filho.
Voltou ao Brasil em 1966 e militou na Aliança Libertadora Nacional (ALN), organização revolucionária comunista criada em 1967. Foi preso três vezes e torturado -na última delas, cumpriu pena de 1972 a 1974, no Presídio do Hipódromo, em São Paulo.
Com a aprovação da Lei da Anistia (1979), foi reintegrado ao MEC e convidado a dar aulas na UFRJ. Recebeu, do Ministério da Cultura (MinC), a comenda da Ordem do Rio Branco pelo trabalho com a cultura brasileira.
Como autor, deixou produção plural na qual se destacam livros de história e de cultura afro-brasileira e obras para crianças e jovens, com as quais ganharia dois prêmios Jabuti, por "Uma Estranha Aventura em Talalai" (1979) e "O Barbeiro e o Judeu da Prestação contra o Sargento da Motocicleta" (2008).
Seus livros mais recentes foram os infantojuvenis "A Menina que Descobriu o Segredo da Bahia" e "Eu contra Ele nas Cavernas de Minas", ambos publicados em 2014.
Além de professor universitário, foi presidente da Fundação Cultural Palmares, ligada ao MinC, e diretor do Museu Histórico do Rio.
FUTEBOL
Em artigo na Folha de S.Paulo em julho de 2014, Rufino analisou, a partir da derrota da seleção brasileira na Copa, a forma como o brasileiro enxerga o futebol e a sociedade.
"Mais ou menos entre 1940 e 1970, sob a república populista, tornamo-nos 'os melhores do mundo', 'o país do futebol' etc. Populista aqui não na acepção de demagogia, mas como a fórmula de poder carismático que empurrou as massas para dentro do jogo político. Foi bom ser povo naqueles anos: poderosos e pobres confiavam medianamente uns nos outros", escreveu.
Disse ainda que "qualquer juízo de qualidade sobre o futebol" deveria levar em conta a perspectiva história.
Nos últimos tempos, Rufino exercia o cargo de diretor de Comunicação do Tribunal de Justiça do Rio, onde fez ações vinculadas à causa pública e à cidadania, como a cerimônia de desenforcamento" de Tiradentes e a realização de um baile charme no tribunal.
Casado com Teresa Garbayo, Joel Rufino dos Santos deixa dois filhos e quatro netos. Seu corpo será cremado na tarde de sexta, no Cemitério do Caju, no Rio.