“Ilhados” e “Sargento Getúlio” decepcionam em festival

Miguel Anunciação - Do Hoje em Dia
19/09/2012 às 08:45.
Atualizado em 22/11/2021 às 01:24
 (Mariano Czarnobai/Divulgação)

(Mariano Czarnobai/Divulgação)

É uma boa notícia que a 19ª edição do “Porto Alegre em Cena” escale, em seu rol de 71 atrações de teatro, dança e música, cinco espetáculos do Nordeste – quatro de Pernambuco e um da Bahia –, visto que montagens daquela região pouco frequentam os grandes festivais de artes cênicas do país. Conferimos dois dos “nordestinos”, “Sargento Getúlio”, de Salvador, e “Ilhados, Encontrando as Pontes”, do Recife.

“Sargento Getúlio”, evidentemente, é a versão teatral da obra que projetou o escritor João Ubaldo Ribeiro, dirigida por Gil Vicente Tavares, da nova geração de diretores em projeção na Bahia. Carlos Betão interpreta o sargento que se recusa a acatar a ordem de trazer de volta a Paulo Afonso, na Bahia, o preso político que conduzia até Aracaju.

Exibição

O trabalho rendeu os troféus de Melhor Espetáculo e Ator de 2011, em Salvador. O que reafirma que o teatro baiano já esteve bem melhor. A montagem é mais um exemplo de quando um ator, tão preocupado em exibir sua coleção de recursos vocais e corporais, declina da incumbência de tornar nítida uma história.

Caso contrário ao de Julio Adrião, de “A Descoberta das Américas”, por exemplo, que, além de deixar claro o quanto possui em talentos, nos permite enxergar claramente toda a saga do seu personagem.
Atores assim, tão vaidosos, carecem do controle do diretor, tarefa que Gil Vicente não cumpriu. Pior, caberia a ele também definir o que o espetáculo pretende dizer sobre a brutalidade do personagem, a violência exacerbada da situação que recorta. E como a iluminação é elementar, o figurino e a trilha sonora são discutíveis pela assepsia no meio do nada, resta elogiar a cenografia de Sante Scaldaferri, ainda que pareça escultura, porém, curiosa num ambiente de tanta certezas indevidas.

“Ilhados"

Criadora, diretora e uma das intérpretes de “Ilhados”, Mônica Lira tornou-se respeitável no ambiente da dança contemporânea pernambucana, sobretudo por “Conceição” e por um outro trabalho que descreve a trajetória de ônibus entre dois bairros de periferia do Recife, plenos de vida cultural auto-referente. Este trabalho, no entanto, sugere ser menos bem-sucedido que os dois citados.

Apesar do belo recurso da abertura, na qual só é dado ver a metade inferior frontal das pernas de Mônica e Rafaella Trindade, graças a fachos de luz instalados nos quatro joelhos. E apesar da enorme contribuição da trilha sonora executada ao vivo. O demais anima bem menos.

O padrão da dança não envolve, a cenografia (sacos plásticos cheios d’água, pendurados como cortinas) não se justifica e os figurinos não são felizes. Um deles, aliás, talvez seja candidato ao posto de vestido menos interessante da história dos figurinos de dança. 
 

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