Indicação ao Oscar coroa bom momento da animação brasileira

Paulo Henrique Silva
18/01/2016 às 12:57.
Atualizado em 16/11/2021 às 01:04

(Hoje em Dia)

Tanto se especulou na mídia sobre as chances de “Que Horas Ela Volta?” aparecer entre os indicados ao Oscar de melhor filme de língua não-inglesa (possibilidade descartada no mês passado, quando divulgaram os pré-selecionados na categoria), que a nomeação da animação “O Menino e o Mundo” ganha ares de surpresa para a maior parte do público.




Na primeira vez que uma produção nacional concorre entre os desenhos de longa-metragem, num quesito sempre dominado por filmes de grandes estúdios de Hollywood (entre eles a Disney, a Pixar, que agora são parceiras, a Blue Sly e a Dreamworks), o anúncio de “Boy & The World” - o seu título americano – coroa a ótima fase da animação do país.




Para vários analistas que acompanham o mercado, esse reconhecimento já deveria ter vindo dois anos antes, quando “Uma História de Amor e Fúria”, de Luiz Bolognesi, também apareceu entre os pré-qualificados ao maior prêmio da indústria cinematográfica, seguindo um caminho muito semelhante ao que “O Menino e o Mundo” trilhou pouco depois.




O filme de Bolognesi foi o primeiro brasileiro a vencer o Festival de Annecy, na França, considerado o principal prêmio dos desenhos, apresentando uma proposta que, a exemplo da produção de Alê Abreu, não se limitava aos espectadores mirins. Por sinal, a história é muito adulta, resumindo 500 anos de história do Brasil a partir dos perdedores: índios, escravos e pobres.




“O Menino e o Mundo” não tem as cenas de violência que levaram o filme de Bolognesi a ter uma classificação de 12 anos, mas seu tom depressivo e metafórico, promovendo um retrato melancólico sobre a sociedade mecanicista de hoje, tem se comunicado mais com o público adulto – não por acaso arrebanhou menos de 30 mil espectadores nos cinemas.




Abreu abraçou o mesmo expediente de seu longa anterior, “O Garoto Cósmico” (2008), em que uma criança tenta compreender o que se passa na sociedade, deparando-se com personagens que são uma projeção de seu “eu” adulto. A beleza das cores e traços são um atrativo para as crianças, mas, na narrativa, surgem como um sinal de liberdade que vão sendo tolhida.




A animação brasileira só chegou a esse patamar de respeitabilidade quando abandonou de vez o modelo disneyano, buscando um caminho próprio. Mas o Oscar, claro, não irá abrir mão de sua fórmula tão facilmente. Dentro dessa perspectiva, o favorito é, disparado, “Divertida Mente”, da Disney/Pixar, seguido por “Anomalisa”, de Spike Jonze (“Quero Ser John Malkovich”).




A única produção de língua não-inglesa a levar o prêmio, criado em 2002, foi “A Viagem de Chihrio”, do japonês Hayo Miyazaki, em 2003. O país asiático, por sinal, emplacou a sua terceira nomeação seguida – após “Vidas ao Vento”, de Hayo, em 2014, e “O Conto da Princesa Kaguya”, de Isao Takahata, no ano passado, a lista conta agora com “Quando Estou com Marnie”, de Hiromasa Yonebayashi.

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