No coração da Amazônia, uma equipe especial está treinando duro para entrar na seleção brasileira de tiro com arco e participar das Olimpíadas do Rio - 2016. Seis jovens índios - sendo uma mulher-, de 14 a 19 anos, já foram selecionados e estão em preparação intensa para participar, pela primeira vez na história do país, dos Jogos Olímpicos.
Em menos de um ano, 80 índios participaram da seletiva e seis foram escolhidos. São das etnias Kambeba, Karapãna, Baré e Tykuna, já passaram três temporadas na Vila Olímpica de Manaus, sendo treinados por uma equipe de peso sob os cuidados do técnico Roberval Fernando dos Santos, com extenso currículo e medalhas em competições internacionais e campeão brasileiro de tiro com arco.
Se depender da intimidade desses meninos com o esporte, não é exagero dizer que a equipe brasileira estará reforçada em 2016. Afinal, nascidos e criados na floresta, tiveram como primeiro brinquedo o arco e flecha. Uma tradição forte, passada de pais para filhos de geração em geração.
“O arco e flecha é inato neles. É o primeiro brinquedo e a paixão e intimidade que eles têm com esses objetos é impressionante. Fiquei assustada com a facilidade de transição que os escolhidos tiveram. Atleta nenhum entra em treinamento de alto rendimento em menos de um ano”, ressalta a “caça-talentos”, a professora de Educação Física, Márcia Lot, responsável pelas seletivas nas aldeias.
As diferenças quanto ao tipo de arco e flecha utilizado pelos índios e os de competição são muitas (tipo de material e peso), mas Márcia pontua que eles têm uma técnica apurada de mira, o que os deixa em vantagem em relação a outro esportista. “Eles caçam uma arara voando a 100 metros de altura. Nosso desafio é misturar essa sabedoria tradicional com a tecnologia de ponta dos esportes olímpicos”.
Os jovens indígenas precisam deixar a aldeia e viajar 60 quilômetros de barco, por mais de uma hora, até a cidade grande. Apesar disso, todos estão animados. “Este projeto foi um resgate da autoestima dos indígenas, usando o que eles fazem de melhor, a arquearia. É ainda um resgate da cultura deles”, explicou Márcia, que se infiltrou nas aldeias com a ajuda de órgãos protetores da cultura indígena.
SAIBA MAIS
* Ao serem retirados de suas aldeias para o treinamento intensivo no tiro com arco, Marcia Lot diz que os atletas das aldeias terão tratamento diferenciado e acompanhamento psicológico. “São mudanças pessoais radicais. Muitos nunca tinham saído de suas tribos por muito tempo”.
* Atualmente os seis novos atletas selecionados nas comunidades indígenas estão em suas aldeias em “férias” dos treinamentos.
* O projeto está sendo analisado pelo Ministério do Esporte que, no dia 30 deste mês, divulgará se esses jovens terão auxílio financeiro profissional, como o Bolsa Atleta.