PARATY – A descentralização do olhar para a literatura brasileira é o foco deste ano do estudo apresentado pelo Itaú Cultural na 13ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip). Três especialistas da área debateram as iniciativas de fomento ao livro e à leitura nos rincões do país.
O escritor Marcelino Freire, criador da Balada Literária em São Paulo, desenvolve o projeto “Quebras”, em que percorre 15 capitais onde encontra e divulga desde saraus de poesia debaixo de viaduto (em Aracaju, por exemplo) até o Galpão do Dirceu, em Teresina, onde 13 drag queens ensaiavam uma invasão cultural a São Paulo. “Pelo país afora encontramos produção de excelente nível que o Brasil quase sempre teve preguiça de conhecer”, diz o escritor, que registra tudo em blog e prepara um “roodbook”.
Na mesa com ele, a coordenadora da Jornada de Literatura de Passo Fundo, Tânia Rösing, defendeu “todo tipo” de projeto de incentivo à leitura, desde os festivais literários até as leituras para bebês. Por falta de patrocínio, a Jornada, que acontece há 15 anos, não será realizada neste ano. Mas o Itaú Cultural patrocinará o 13º Seminário Internacional de Pesquisa em Leitura e Patrimônio Cultural, que levará à cidade do Rio Grande do Sul os pesquisadores franceses Roger Chartier e Anne-Marie Chartier, além de Regina Zilberman (CNPq), Edvaldo Souza Couto (PUC-SP) e Francisco Marinho (UFMG).
Também defendendo a divulgação de autores estabelecidos nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, o pesquisador em livro e leitura Felipe Lindoso diz esperar que o Ministério da Educação volte atrás na decisão de cortar verbas para a compra de livros para o Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE).
Autores e temas
Entre os destaques da Flip deste ano está o irlandês Colm Toíbin autor de seis romances, entre eles “A Luz do Farol” e “Mães e filhos”, que esteve no evento em 2004 e fez mesa solo na noite dessa quinta-feira (2).
A programação começou pela manhã, centrando na poesia de Eucanaã Ferraz e Antônio Risério na mesa “Cidade e Território”, quando o mediador João Bandeira lembrou a “pedalada parlamentar” do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB), que articulou a aprovação da redução da maioridade penal para crimes hediondos. Mas o tema da poesia como forma de percepção da cidade prosseguiu incluindo leitura do poema “Bonde”, de Mário de Andrade (homenageado do evento) por Risério.
À tarde, o argentino Diego Vecchio e o bósnio Sasa Stanisic falaram “De Micróbios e Soldados”, desde a hipocondria do primeiro até a relação entre memória e campos de guerra.
(*) Viajou a convite do Itaú Cultural