Jaime Alem, maestro e arranjador de Maria Bethânia, sai dos bastidores e conta sua história

Miguel Anunciação - Hoje em Dia
24/10/2013 às 08:33.
Atualizado em 20/11/2021 às 13:36

Embora tenha nascido e registrado em cartório de Franca (SP), Jaime Alem se sente mineiro, de coração. De sonhar até hoje com a igrejinha no topo de uma ladeira muito íngreme, com o jardinzinho florido, redondo, em torno. E se emociona só de lembrar destas imagens tão queridas, embora não visite Ouro Fino há mais de 20 anos. Morou ali até os sete anos, antes de a sua família mudar-se para Jacareí (SP), onde principiou a ser músico, a construir uma carreira que o levou bastante longe. Ao reconhecimento como instrumentista, compositor, arranjador e maestro. O mais fiel parceiro com que a carreira de Maria Bethânia contou em mais de 30 anos de sucesso.

Há pouco mais de um ano, Jaime Alem e a cantora baiana já não trabalham juntos: não havia mais clima para a relação artística que mantiveram desde 1982, quando ele passou a criar os arranjos para o backing vocal que Bethânia mantinha em seus shows. Uma colaboração formalmente creditada desde "Nossos Momentos", LP de 1983.

"O (Gilberto) Gil era o diretor musical da Bethânia, mas não tinha saco para fazer os arranjos do backing. Fazia nas coxas e dizia 'se virem'. As meninas – minha mulher, Nair Cândia, era uma delas – ficavam nervosas, inseguras. Então me chamaram para dar uma ajuda. Eu passava a noite trabalhando e levava o resultado numa fita k7. O Gil ficou invocado de ver que ficava bacana de um dia para o outro, quis saber o que estava acontecendo", lembra.

Na época, Bethânia vivia um período de transição, desde o fim da parceria com Perinho Albuquerque como seu produtor, e buscava alguém com perfil completamente diferente. Após uma experiência não-oficial, mas satisfatória, de dois, três meses, Jaime foi o escolhido. Bastou definir o cachê, as bases do trabalho e colocar a mão na massa. O resto é o sucesso mútuo e inequívoco que os dois tiveram.

Talento precoce, diretor de orquestra em Jacareí

Jaime Alem não era o profissional mais conhecido do mundo lá no início da relação com Bethânia. Também não surgia do nada: de família libanesa, neto de músico e maestro de banda, sua mãe tocava bandolim e cantava, uma influência para sempre.

Aos 11 anos, ele ganhou o primeiro violão, aos 13 já tocava em conjunto de baile e, aos 15, era o diretor musical de uma pequena orquestra (onde tocava o baterista Jurim Moreira) com quarteto vocal. Um talento bastante precoce.

"Minha mãe fez minha mala e me expulsou de casa ao me ver chegar às 6 horas da manhã. Não queria marginal em casa. Mudou de ideia ao saber que eu havia ganhado naquela noite o equivalente a um mês de salário na loja de calçados de Jacareí, onde eu trabalhava de dia", conta Jaime, que foi viver em Niterói, com Nair.

Na época, a cidade era maravilhosa, a Meca quase que inevitável (muito mais que São Paulo) para quem pretendia investir a fundo na carreira de artista. No Rio, passou a ter aulas de orquestração e regência com Laércio de Freitas, Guerra Peixe, Hélio Sena e o tcheco Bohumil Med. Até hoje, Jaime guarda profunda gratidão aos maestros admiráveis, com os quais firmou o que já intuía sobre música e pôde aprender o que só fortaleceu a sua arte.

Bethânia significou também um aprendizado importante. Por isso, Jaime não exime poder reatar a longa parceria que tiveram: "É natural que ela queira mudar, experimentar outras coisas, e tenho certeza que dei o melhor de mim todo tempo. Mas para voltar como estava não vale a pena. Poderemos conversar e retomar noutras bases, não fecho as portas".

Jaime em ação com Bethânia
 

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por