Jorge dos Anjos e Ricardo Aleixo têm encontro afetivo e artístico em mostra

Thiago Pereira
talberto@hojeemdia.com.br
25/08/2017 às 18:29.
Atualizado em 15/11/2021 às 10:16
 (André Burian/Divulgação)

(André Burian/Divulgação)

Um não lembra direito como conheceu o outro (“Acho que foi em um evento, não me lembro exatamente quem nos apresentou”); já o outro sabe precisar quando se encontraram pela primeira vez (“Foi durante um dos eventos que fizeram em 1988 sobre o centenário da Abolição da Escravatura”). Seguramente, devem existir mais diferenças pessoais entre o “distraído” artista plástico Jorge dos Anjos e o “atento” poeta Ricardo Aleixo; mas não são estas as que importam. 

O centro de “Infinito Distante”, exposição conjunta que inauguraram nessa sexta-feira (25) no BDMG Cultural e que vai até 16 de outubro, está nos vetores de aproximação artística entre os amigos e artistas. 

As linhas que ligam afetivamente os dois se confundem com os traçados que ambos fixaram na cultura mineira e nacional, em diferentes áreas mas sempre em diálogo. “Eu e Ricardo dividimos diversas questões em comum: o interesse pela poesia, espaço, território, raízes. Isso nos aproxima e aproxima nossas linguagens”, diz Jorge. “Com ele desenvolvi uma relação de parceria que não é eventual, é contínua, mesmo que não resulte em um trabalho”, atesta Aleixo, que, por exemplo, já assinou diversos catálogos da obra de Dos Anjos.

Obra

Discípulos dos construtivismos de Amilcar de Castro e de Lygia Pape, além do interesse mútuo pela “herança africana”, como “fundamento e linguagem”, como aponta Dos Anjos, a parceria nasceu de um convite do BDMG Cultural a dos Anjos para uma exposição de comemoração aos 55 anos da instituição. “Quando me convidaram, quis fazer uma obra que desenvolvo há muitos anos, as gravaduras a ferro e fogo. Nesta pegada, fiz um abecedário, a partir destas peças, onde escrevo os poemas do Ricardo, com sua caligrafia. É aí que nossa parceria se solidifica”, diz o artista plástico. 

“Inicialmente eu iria fazer apenas a curadoria da mostra”, lembra Aleixo. “Quando surgiu o convite para a parceria, tive de lidar com questões de outra ordem, como de escala, já que o trabalho dele é monumental nesse sentido; de materiais, como o ferro, e de exploração do espaço; entender onde ele estava caminhando para que eu pudesse manter uma condição de conversa, sem disputar espaços”, diz Aleixo. Assim, as sequências de poemas visuais de Aleixo, já diagramados, ganham outra materialidade com a obra. 

Espaços

A exposição ocupa a galeria da instituição e o entorno do edifício, e faz caber interesses de ambos, criando um ambiente multissensorial, com escultura, objeto tridimensional, gravura, poesia visual e muito mais. Em setembro, a mostra terá lançamento do catálogo, no dia 14, a performance “A Ferro e Fogo”, no dia 21, um papo entre os dois no dia 28 e uma palestra com Sonia Salcedo Del Castillo, no dia 30.

Um ocupação majestosa por parte dos parceiros. Para Aleixo, trata-se de um momento marcante para eles. “Para além da amizade e das aproximações, estamos falando também do diálogo das diferenças que fundamentam os trabalhos de cada um. Conseguimos apontar, de forma nítida, o que é de Jorge, o que é meu e o que é nosso. E não é demarcação de território, e sim atender a necessidades da obra de cada um”, finaliza.

Serviço: Galeria de Arte BDMG Cultural apresenta Instante Infinito, de Jorge dos Anjos e Ricardo Aleixo, na Rua Bernardo Guimarães, 1.600–Lourdes. Todos os dias, de 10h às 18h.

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