De tempos em tempos, leitores– e mais especificamente jornalistas, estudantes, e militantes da causa– são presenteados com obras como este “Confesso Que Perdi”, de Juca Kfouri. Trata-se de uma daqueles memoriais que ultrapassam o escopo de interesse específico (a produção da notícia), para abarcar histórias e estórias macro, da dimensão de um Brasil contemporâneo que só consegue ser, minimamente visto, através de bastidores.
O elogio inicial (“presenteados”) na apresentação do livro, ainda não faz jus à qualidade e a importância do livro, Assim como “O Papel do Jornal”, de Alberto Dines ou “A Prática da Reportagem”, de Ricardo Kotcho, o tomo de Juca se enquadra imediatamente nas referências bibliográficas de estudantes e quetais.
Escrito por aquele que frequentemente em citações orais ou textuais, carrega o epiteto “um dos maiores e melhores jornalistas do Brasil”, logo após o seu reconhecível sobrenome. Kfouri é mesmo tudo isso, basta acompanhar sua extensa e vitoriosa (o título do livro, inteligente, ‘ludibria’ e sinaliza ao leitor o que vem por aí) carreira.
Portanto, tanto para quem se delicia hoje com seu energético blog, seus pílulas radiofônicas, suas participações na ESPN, quanto para quem se apaixonou e aprendeu uma coisa ou outra deste ofício– retratar um real que por vezes e por muitos insiste em ser embaçado– “Confesso que Perdi” vale como masterclass generosa e eterna.
Existem algumas tentativas de disfarçar, mas é o esporte–e mais notadamente o futebol– o diapasão narrativo para as lembranças de Kfouri.A partir de eventos, como Copas do Mundo, jogos do Corinthians, Olimpíadas, amores (os filhos e netas, Sócrates, Washington Olivetto, João Saldanha, colegas de ofício), inimigos (Ricardo Teixeira, João Havelange), decepções (Pelé, FHC, a Copa de 82) vão se entrecruzando, se infiltrando, se adensando, e formam o tecido geral, alinhavado pelo delicioso texto do autor.
E o que encontramos no fundo de cada memória são explicações, apurações, indagações, conclusões: ouro puro para quem se interessa pelo substrato noticioso– afinal há sempre uma outra pose atrás de quem posa. Falando em pedras, se as que rolam não criam musgo, jcomo á diria o inspiracional blues, imagine a bola–alegoria perfeita que o livro oferece para Juca narrar a si.