(FOX/DIVULGAÇÃO)
Principal estreia de hoje nos cinemas, “Kingsman: O Círculo Dourado” é tão retrógrado quanto o seu décor, que recorre a uma ambiência dos anos 60 mesclada aos dias atuais.
Segundo episódio de uma série sobre agentes especiais britânicos–versão mais pop e engraçada do icônico James Bond–o filme realiza um grande panfleto contra as drogas disfarçado de deboche.
A vilã interpretada por Julianne Moore comanda uma organização cujo único intuito é conseguir um decreto presidencial dos Estados Unidos para a liberação do uso individual de drogas.
Assim, o filme usurpa de uma reivindicação concreta de parte da sociedade para fragilizá-la e derrubar certos preceitos, como a relação da maconha com mentes mais progressistas e libertárias.
Como moeda de troca, Julianne vende drogas que contêm uma substância mortal, atingindo quase toda a população do planeta. Primeira questão: se ela já ocupa este espaço, de que serviria a liberação?
Os personagens que fazem uso de drogas, da princesa sueca à conselheira do presidente, são expostos e punidos por esta escolha, reafirmando de forma desastrosa certos preconceitos.
Embate pobre
Um dos mocinhos recebe a pior punição que um “herói” poderia ter: sair de cena, sem participar da salvação mundial. Apesar de divertida, a presença do cantor Elton John corrobora para relacionar arte e drogas.
O presidente pode ser um louco, encontrando um jeito de resolver o problema das drogas, mas há nele uma ação, um movimento, enquanto o “erro” dos usuários é visto com comiseração pelos protagonistas.
Aliás, nenhum é mostrado com drogas, o que nos leva a um pobre embate de ideias: os defensores, que recorrem a elas para atenuar a pressão do trabalho ou por rebeldia, e os contrários, entre eles o agente boa praça Eggsy.
“Kingsman 2” também é conservador na maneira como retrata as mulheres: só se dão bem as que estão a serviço dos homens e se vestem como eles. Por outro lado, a violência enche as telas e não é contestada.