Lançado em DVD, ‘Até o Fim’ é uma metáfora da vida

Paulo Henrique Silva - Hoje em Dia
17/11/2014 às 09:08.
Atualizado em 18/11/2021 às 05:02
 (PARIS FILMES/DIVULGAÇÃO)

(PARIS FILMES/DIVULGAÇÃO)

O final de “Até o Fim” é dúbio. Você não sabe se é otimista, apontando para um velho herói do mar interpretado por Robert Redford que sobrevive a oito dias de naufrágio, ou se, na direção oposta, apresenta um desfecho melancólico que estabelece uma metáfora sobre o ciclo da vida.   Prefiro a segunda opção, transformando aqueles derradeiros momentos no último esforço da mente do velejador, numa ação que pode ser vista como a síntese da nossa existência: uma constante e inglória luta para enganar o tempo e estender ao máximo a nossa passagem por aqui.   O prólogo traz a voz em off de Redford tecendo uma conclusão que é a de qualquer homem diante do término da vida. Ele diz que lutou até o fim, mas admite não saber se valeu a pena. Afirma, um pouco decepcionado, que sempre buscou se aproximar da correção, como ser forte, gentil, amoroso e verdadeiro.   A frase que abre e fecha essa reflexão é um “sinto muito”, ao perceber que, ainda dentro dessa leitura existencial do filme de J. C. Chandor (de “Margin Call – Um Dia Antes do Fim”), por mais que nos preparemos para a despedida, ela nunca é plenamente aceita como algumas religiões esperam transformá-la.   O pouco que sabemos sobre o personagem de Redford é que ele vive sozinho num barco, que podemos definir como uma extensão de seu corpo. Ali está tudo à sua disposição, da maneira mais planejada possível para evitar contratempos, mas o mistério da Natureza impõe desafios quase incontornáveis, numa permanente provação.   Após um contêiner (onde se lê, curiosamente, “Ho won”, que, com a inclusão de w, seria traduzido como quem ganhou) abrir um rombo no casco de seu barco, o viajante não tem mais sossego, usando todos os seus conhecimentos de navegação para evitar uma tragédia que teima que despontar.   Não seria exagero dizer que a jornada do protagonista é próxima a da parábola de Jesus no deserto, trocando a areia escaldante pelo mar revolto. Até onde ele irá suportar? Até aonde a sua racionalidade não será substituída pelo desespero quando, por várias vezes, o destino lhe prega peças?   As tormentas surgem como estágios da vida, sugando gradativamente as forças do personagem. Não são poucas as ocasiões em que vemos círculos para demarcar essas passagens. Até o momento em que vemos um círculo de fogo, prova final do velejador.

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