Nascido em 1903, o compositor mineiro Ary Barroso venceu a gripe espanhola em 1918, época em que fez a sua primeira composição. Mais tarde seguiria para o Rio de Janeiro, escreveria “Aquarela do Brasil” e viraria locutor esportivo. Corta para 2021. Em plena pandemia, é Barroso quem quebra o silêncio dos sets, como tema da única produção em atividade em Minas Gerais.
Produzido pela Gilbratar, com apoio do Polo de Cinema de Cataguases, o documentário “Ary” teve duas diárias na semana passada, na casa do ator nonagenário – e também mineiro –Lima Duarte. Ele dá voz ao compositor, primeiro brasileiro indicado na história do Oscar – de melhor canção original, pelo filme “Brasil” (1944).
O diretor André Weller foi à casa de Lima, em Indaiatuba, no interior de São Paulo, para fazer a gravação. Na verdade, ela aconteceu na residência de um vizinho, o ator e cantor Sergio Guizé, dono de um estúdio de som particular. “O Sergio e o Alexandre fizeram teste de Covid um dia antes, em Indaiatuba mesmo. E saíram emocionados da gravação com Lima”, revela o produtor Breno Nogueira.
O fato de ser o único filme do Estado que não sofreu paralisação durante a pandemia – à exceção das animações, que normalmente são feitas em frente ao computador – não assusta o produtor. “É um filme de arquivo, mas que terá também algumas encenações. Estas ainda não foram feitas, pois estamos aguardando melhores dias para poder filmar em Cataguases”, adianta.
As encenações são importantes até porque há pouquíssimas imagens em movimento de Ary Barroso, de acordo com Nogueira. Entre elas, cenas de um casamento da filha dele e a participação num filme “Três Colegas de Batina” (1961). Uma das encenações que serão filmadas mostra o compositor de Ubá no leito de morte, conversando com o poeta e cronista Antonio Maria.
“O filme usará muito texto que o próprio Ary escreveu, além das memórias dos programas de calouros que ele participou. Ele era um cara muito irônico. Chegavam a dizer que era mal-educado com os participantes. A história dele é fabulosa. Espero que o filme fique à altura do personagem. A pré-edição que o Weller fez está muito bonita”, observa Nogueira.
Após uma intensa pesquisa, Weller virou especialista no criador do samba-exaltação e parceiro de Carmen Miranda. Diretor de arte, pianista e triatleta, Weller tem na filmografia um documentário sobre outro grande compositor, Miltinho, retratado em “No Tempo de Miltinho”, ganhador do troféu de melhor curta-metragem do festival É Tudo Verdade.
“Para ele, que é pianista, fazer uma obra sobre Ary Barroso, que era um grande pianista, autor do segundo hino brasileiro (‘Aquarela do Brasil’), é uma festa”, destaca Nogueira. Weller também abordou a biografia do pianista João Roberto Kelly, um dos pioneiros do sambalanço, no curta “Balanço de Kelly”. Fora do universo da música, dirigiu a série “As Grandes Entrevistas do Pasquim” para o Canal Brasil.