(Vitrine Filme/Divulgação)
A palavra está com os críticos: o melhor cinema brasileiro de 2013 não vem de Rio de Janeiro e São Paulo, que respondem por mais da metade da produção do país. O reinado agora pertence a um pequeno Estado do Nordeste onde, até o início da década de 90, fazer filmes era uma arte quase impossível, restrita a alguns poucos curtas-metragens.
Em pouco menos de 20 anos, com incentivos locais e uma geração que se pôs imediatamente na vanguarda, Pernambuco se tornou a vitrine do cinema no Brasil. A tradicional lista dos melhores filmes do ano do Hoje em Dia, que reúne os votos de 15 críticos dos principais veículos do país, reflete esse momento de efervescência da produção pernambucana.
Entre filmes de origens e estilos diferentes, o topo do ranking ficou justamente com “O Som ao Redor”, primeiro longa-metragem de ficção de Kleber Mendonça Filho. Após ocupar as listas de melhores lançamentos de associações e jornais americanos em 2012, o filme foi escolhido para representar o Brasil no Oscar, mas não passou da primeira seleção.
Apesar de enveredar por temas universais, como a escalada da violência das cidades urbanas e a crescente falta de comunicação, o roteiro de “O Som ao Redor” tem algumas sutilezas que apenas quem conhece a fundo a realidade brasileira compreenderá plenamente, como o passado escravagista que é perpetuado de forma quase imperceptível, reproduzindo a casa grande e a senzala.
A crítica é dirigida a uma classe média alta, que finge não ter responsabilidade sobre as desigualdades, embora, em seu íntimo, pressinta que algo de ruim está prestes a acontecer. Sensação exemplificada numa dona de casa e sua filha, que têm premonições sobre uma possível invasão à sua casa. Nessas cenas, Mendonça amplifica o suspense numa escala quase insuportável, apontando para um monstro invisível, mas reconhecível
‘Tatuagem’ também representa PE
“Tatuagem” é outro representante pernambucano na lista dos melhores filmes de 2013, na avaliação do júri Hoje em Dia. Além de marcar a estreia na direção de um longa-metragem de ficção do roteirista Hilton Lacerda, a produção tem outras ligações com a obra de Kleber Mendonça Filho.
Entre elas estão a presença do ator Irandhir Santos, principal expoente dessa safra pernambucana, e a crítica voltada para a sociedade de hoje. Apesar de sua história estar localizada no final da década de 70, “Tatuagem” quer enfatizar o futuro “careta” imaginado por uma trupe teatral.
A participação nacional, que aponta para uma nova geração de realizadores, contrasta com os demais listados, em sua maioria assinados por nomes consagrados como o italiano Marco Bellocchio (“A Bela que Dorme”), o americano Quentin Tarantino (“Django Livre”) e o alemão Michael Haneke (“Amor”).
Outros realizadores, que podem ser menos conhecidos do público, exibem um currículo extenso de prêmios, como o turco Nuri Bilge Ceylan (“Era uma Vez na Anatólia”), o romeno Cristian Mungiu (“Além das Montanhas”) e o italiano Paolo Sorrentino (“A Grande Beleza”).
A americana Kathryn Bigelow (“A Hora Mais Escura”) foi a primeira mulher a ganhar o Oscar de direção, em 2009, por “Guerra ao Terror”. O novo trabalho também concorreu ao Oscar e foi exibido no início do ano. Uma curiosidade da lista é que três filmes permanecem inéditos em Belo Horizonte – “Um Toque de Pecado”, “Era uma Vez na Anatólia” e “A Grande Beleza”