Livro celebra centenário de Vinicius de Moraes com depoimentos de amigos

Jaqueline da Mata - Hoje em Dia
08/04/2013 às 09:56.
Atualizado em 21/11/2021 às 02:38

O ano de 2013 certamente terá inúmeros tributos e homenagens a Vinicius de Moraes (1913-1980) que completaria 100 anos no dia 19 de outubro. Mas uma em particular vem despertando a curiosidade pelo conteúdo mais íntimo que traz. A obra, "100 Vinícius 100 - A Poesia Festeja o Centenário de Seu Grande Mestre", com texto escrito originalmente por Alex Solnik, atualizado e agora editado pela BB Editora, traz depoimentos inéditos de personalidades brasileiras que conviveram com o poeta. O livro, que fala do diplomata, dramaturgo, jornalista, poeta e compositor brasileiro, responsável por tirar a Bossa Nova da marginalidade e contribuir para o sucesso da música brasileira no exterior, está previsto para ser lançado no final deste mês.

São 15 depoimentos com momentos carregados de emoção que dão vida aos acontecimentos como se o leitor estivesse presenciando a cena. Entre estes, o de Ferreira Gullar, Zélia Gattai, Oscar Niemeyer, Sérgio Cabral, Jorginho Guinle, Toquinho, Gilda Matoso, Miúcha, Carlinhos Lyra, Cristina Gurjão, Haroldo Costa, Lan, Nana Caymmi, Paulo Jobim e Wimer Bottura. "A intenção é reviver o grande poeta que foi Vinicius. Aliás um dos maiores poetas da literatura brasileira, mas é sempre lembrado pelas músicas que produziu e nunca por este outro aspecto", comenta o autor.

Autor demorou cerca de um ano para colher os depoimentos

A obra, que traz na contracapa um desenho de Cândido Portinari retratando o poeta quando tinha apenas 26 anos, começa com o inédito testamento, escrito a mão pelo próprio Vinicius, cerca de seis anos antes de morrer. "Ele passou muito mal e achou que não passaria daquele noite. Fez um inventário do que tinha e para quem deveria ser doado. Escreveu ainda nomes de pessoas e editoras que lhe deviam. Achei interessante iniciar a obra com este testamento pois é um dos momentos principais da pessoa. Quando se sabe ou pensa que vai morrer é a hora do balanço de toda uma vida", enfatiza Solnik.

O documento vale como uma crônica onde o poeta faz uma espécie de inventário emocional. Rabiscado em laudas do Jornal do Brasil, é direcionado a Maria Christina Gurgel, a sexta mulher de Vinicius, 26 anos mais jovem que ele e com quem teve a caçula Maria. "Christininha, se me sobreviver algum acidente durante a noite, se por acaso, eu morrer dormindo, tudo o que está dentro desta casa é seu, os dólares inclusive, bem como o automóvel, que lhe deixo. É esta a minha vontade e se alguém interpuser, maldito seja, pois não o considero nem irmão e nem filho...".

O autor demorou cerca de um ano para colher os depoimentos que contam casos que retratam Vinicius da maneira espontânea (característica nata) e como era querido pelos inúmeros amigos que fazia e conquistava. Solnik não resiste a alguns depoimentos que relembra e solta boas risadas, durante a entrevista. Entre estes o de Miúcha que conta que o poeta e o pai, Sérgio Buarque de Holanda, fizeram um pacto de que quem morresse primeiro, voltaria para dizer como é que era "lá" . "E um certo dia Sérgio contou que tinha certeza de que havia visto Vinicius", disse Solnik. No depoimento de Miúcha, ela fala que o pai não teve medo e chegou a perguntar: "E aí, Vinicius, como é que é lá? E Vinicius fez que não com os dedos...".

Um poeta atento às mazelas de seu tempo

Mesmo intuito de resgatar a imagem de Vinicius de Morais como um grande poeta teve o professor de literatura e mestre em Letras, Kaio Carmona, com o livro: "Um lírico dos tempos" (Scortecci Editora, São Paulo, SP, 140 páginas) em 2006. A obra é fruto da sua dissertação de mestrado, desenvolvida na área de Literatura Brasileira, concentrada no livro "Poemas, sonetos e baladas" (1946), de Vinicius de Moraes.

Carmona aborda o caráter amoroso e social da poesia de Vinicius de Moraes. "Sempre me atraiu a sedução de suas poesias e também o fato de ser um poeta atento às mazelas de seu tempo. Entre estes está o "Balada dos Mortos do Campo de Concentração" que mostra sua perplexidade perante a 2ª Grande Guerra. Tem "Rosa de Hiroshima" e outros, comenta Carmona.

Em sua opinião entre os motivos de Vinicius ser pouco lembrado como grande poeta não foi só pelo fato de ele ter se ancorado na música, mas também pela incompreensão da crítica de seu tempo, por ter sido ligado a um grupo católico do escritor Otávio de Faria (quando ingressou na faculdade de Direito). "É preciso valorizar esse olhar de poeta de Vinicius de Moraes. A semente é a poesia. Tudo parte de sua poesia", enfatiza Carmona.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por