As eleições municipais de 2020 serão novamente marcadas por fake news. Para o jornalista mineiro Branco Di Fátima, autor do livro “Dias de Tormenta: os movimentos de indignação que derrubaram ditaduras, minaram democracias no mundo e levaram a extrema-direita ao poder no Brasil”, recentemente lançado pela Geração Editorial, as notícias falsas disseminadas pelos meios virtuais “vieram para ficar”.
Mas engana-se quem pensa que se trata de um fato novo, com impacto significativo em eleições nos últimos anos em vários países, entre eles o Brasil. “Elas sempre existiram, mas só que agora se potencializaram com as novas tecnologias”, analisa Di Fátima, lembrando que fofocas, conversas maliciosas e “rádio peão” pautam informações distorcidas há décadas.
A grande diferença, aponta ele no livro, é que tornaram-se mais complexas, aproximando-se do formato de notícias de jornal, além de a disseminação ser mais veloz. “O que antes era feito no boca a boca e com a distribuição de panfletos, agora pode atingir milhares de pessoas, até milhões se usarem as ferramentas de impulsionamento do Facebook e do YouTube”, pondera.
Em “Dias de Tormenta”, Di Fátima conta como, nas últimas três décadas, as novas tecnologias influenciaram na forma de os cidadãos participarem da vida política. O primeiro movimento a se beneficiar destes dispositivos foi o zapatista, no México, na primeira metade dos anos 90, quando se usou lista de e-mail. A Primavera Árabe, que derrubou várias ditaduras em países da África e da Ásia, usou a internet para propagar ideias.
“As manifestações sempre existiram. A primeira greve de que se teve registro é de três mil anos antes de Cristo. A introdução da internet, porém, trouxe transformações profundas na maneira dos movimentos se organizarem. Antes elas estavam associadas a partidos políticos, sindicatos e grupos religiosos. Agora, não há estrutura hierárquica definida e as pautas também são diversas”.