Livro repassa o resgate de obras saqueadas na Itália

Patrícia Cassese/Hoje em Dia
21/07/2014 às 09:01.
Atualizado em 18/11/2021 às 03:27
 (GABRIEL BOUYS/AFP)

(GABRIEL BOUYS/AFP)

A foto em P&B, tirada em 1938, impressiona, para dizer o mínimo. A Piazzale Michelangelo, um dos pontos mais procurados pelos turistas que acorrem a Florença, inclusive pela visão privilegiada da cidade, do alto, aparece, aqui, com o desenho floral, nos jardins, da suástica. Era o mês de maio, e as autoridades da cidade se preparavam para dar boas-vindas a Hitler e seu séquito. Um pequeno salto no tempo – seis anos – e outra foto chocante: a foto do acerto da Princeton University mostra as pontes que cruzam o Rio Arno em ruínas.


O material iconográfico integra a edição de “Salvando a Itália – A Corrida para Resgatar das Mãos dos Nazistas os Tesouros de Uma Nação” (Editora Rocco, 432 páginas), de Robert M. Edsel. Credenciais? Trata-se do mesmo autor de “Caçadores de Obras-Primas”, que foi transportado para a telona sob a direção de George Clooney (também protagonista).


A obra lança luzes sobre um período no qual obras-primas do Renascimento, tesouros do Vaticano ou mesmo antiguidades do Império Romano foram submetidas à sanha de saqueadores ávidos. O rol de peças visadas incluia trabalhos de Michelangelo Buonarotti, Donatello, Tiziano e Caravaggio, para citar alguns.


Para dar início à pesquisa, Edsel se mudou para a hoje idílica cidade da Toscana (em 1996), permanecendo por ali por cinco anos. “Florença logo se tornou minha sala de aula, a Europa era a minha escola”. No livro que chega agora a público, obras emblemáticas da história da arte inserem-se em situações que parecem beirar o ficcional. Caso da Santa Ceia, de Leonardo DaVinci. Foi em 16 de agosto de 1943, a explosão da bomba, que quase pôs a obra – para a qual, hoje, é necessário agendamento de meses para conferi-la (isso quando a exposição não é interrompida). Na verdade, a cidade de Milão – hoje centro da moda e do design – já tinha sofrido ataques impressionantes. Em um apenas um deles, edificações como o Duomo, o Palazzo Reale e o Castello Sforzesco, bem como 3.200 residências, foram “totalmente arrasadas (ou) seriamente danificadas”.


Evidentemente, quando tantas vidas foram ceifadas – só no ataque descrito acima, foram mortos nada menos que 700 milaneses – pode soar como discutir o sexo dos anjos falar de bens materiais. De fato, nada supera o drama dos que perderam seus entes queridos no curso da história da humanidade por conta das incontáveis guerras.


Mas vale citar uma frase de H. Maitland Wilson, supremo comandante das forças aliadas: “Obras de arte não são como diamantes. Por mais valioso que seja um diamante, você sempre pode conseguir outro igual. Mas a ‘Mona Lisa’ ou a Capela Sistina são únicas. Seus criadores estão mortos e nenhum dinheiro poderia jamais substituí-los”. Quando se tem em conta que “A Primavera”, de Botticelli, ante a qual os turistas hoje não economizam “ohs” durante a visita à Galeria degli Uffizi, esteve sob risco, concorda-se que o trabalho dos que uniram forças para evitar o surrupiar de tantos tesouros vale, sim, o devido crédito – e registro.

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