RIO DE JANEIRO - Na história da música popular brasileira, o período que vai de 1930 a 1950 ficou conhecido como a 'Era do Rádio". Ao longo dessas duas décadas, o rádio, meio de comunicação surgido no Brasil no decênio anterior, os anos 20, se consolidou como plataforma para o lançamento de músicas e a popularidade de cantores e compositores, quase sempre em apresentações ao vivo, nos auditórios das emissoras.
A trajetória de um importante protagonista dessa época está contada no livro "O Que É que a Baiana Tem? - Dorival Caymmi na Era do Rádio", foi lançado na terça-feira, no Rio de Janeiro, pela editora Civilização Brasileira.
Se vivo, Dorival teria completado 99 anos. Marco inicial das comemorações pelo centenário do compositor, que ocorrerá em 30 de abril de 2014, o lançamento do livro foi acompanhado de um bate-papo com a participação da autora, Stella Caymmi, e dos jornalistas Sergio Cabral e Tárik de Souza.
Neta e biógrafa de Dorival Caymmi, a jornalista Stella Caymmi escreveu o livro a partir de mais de 70 entrevistas com o avô, complementadas com pesquisas em seu arquivo pessoal e no próprio compositor. Muitas das longas conversas, segundo Stella, ocorreram pouco antes da morte de Caymmi, em 2008.
“A ideia foi fazer uma seleção crítica de temas importantes e centrais a partir dos depoimentos de Caymmi, sobretudo os que acarretaram tensões e dificuldades em sua carreira”, disse. A jornalista é autora também de uma extensa biografia do avô, Caymmi – O Mar e o Tempo, resultado de dez anos de pesquisa e lançada em 2001.
Imortalizada na voz de Carmen Miranda, a canção "O Que É que a Baiana Tem?", que dá título ao livro, é o eixo da narrativa que mostra como se deu o sucesso meteórico do baiano Dorival Caymmi a partir de sua chegada ao Rio de Janeiro, em 1938.
A música foi composta para o filme Banana da Terra e foi sucesso no carnaval de 1939.
“Carmen, quando tomou conhecimento de O Que É que Baiana Tem? ligou de São Paulo para o meu avô, querendo gravar a música. Os dois gravaram em dueto, coisa rara na época. Muitos compositores faziam músicas para a Carmen, mas Caymmi foi o primeiro a ser convidado a cantar com ela em uma gravação. Ele começou com o pé-direito”, dissea Stella.
Os conflitos entre os artistas e as emissoras de rádio e as gravadoras também são analisados pela autora, que destaca ainda a influência de intelectuais de esquerda, como Jorge Amado, na trajetória do avô e no engajamento de Caymmi na luta pelo direito autoral. “Ele foi um dos criadores da Associação Brasileira de Compositores e Autores (ABCA), antecessora da União Brasileira dos Compositores (UBC)”, disse.