CINEMA

Lucas Bambozzi mostra os impactos da mineração no filme 'Lavra', já em cartaz

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
Publicado em 10/10/2022 às 07:20.
Geógrafa retorna dos Estados Unidos para sua terra natal, quando o rio Doce foi contaminado pelo rompimento da barragem do Fundão, em Mariana (PANDORA/DIVULGAÇÃO)

Geógrafa retorna dos Estados Unidos para sua terra natal, quando o rio Doce foi contaminado pelo rompimento da barragem do Fundão, em Mariana (PANDORA/DIVULGAÇÃO)

A Camila do filme “Lavra” é uma geógrafa que retorna dos Estados Unidos para a cidade natal Governador Valadares pouco depois, em 2015, de a barragem do Fundão se romper em Mariana e estabelecer uma catástrofe ambiental de grandes proporções.

Camila não existe – é uma personagem criada pela roteirista Christiane Tassis e pelo diretor Lucas Bambozzi para conduzir uma narrativa sobre os impactos da mineração na vida e na alma de Minas Gerais. Mas a sua construção é muito próxima do real.

“As cenas que estão no filme foram vividas em algum momento de alguma forma. Mesmo usando recursos ficcionais, ele se ampara na realidade. Não é uma invenção”, observa Bambozzi, que prefere definir “Lavra” como um filme ensaio, com outras camadas de informação.

Como foi filmado em ordem cronológica, com a atriz (Camila Mota) refazendo o percurso feito em 2017 pelos realizadores, Bambozzi destaca que ela acaba tendo uma experiência real, “de entendimento da complexidade da mineração, de viver o drama dos atingidos que perderam parentes”.

Outro momento que borra as fronteiras entre realidade e ficção é quando a personagem/atriz entrevista o líder indígena e ambientalista Ailton Krenak. “Eles já tinham se encontrado num debate. Então tem algo de ficcional ali, mas também uma verdade na conversa entre eles”, analisa.

A Camila de “Lavra” não surge de imediato. Primeiro ouvimos a voz dela, depois em imagens de relance, antes de aparecer de corpo inteiro. “É a ideia de pertencimento, de alguém que começa a se envolver com as emoções e o terror das pessoas sobre o desastre”, explica.

“Como alguém que vivia fora, ela será afetada por esse sentimento de pertencimento gradativamente. No início, não nos identificamos com ela, porque não a vemos. Isso vai acontecendo progressivamente, na medida em que Camila vai se tornando cada vez mais empática com a situação”, assinala.

Para ter maior liberdade de pesquisa e abordagem, a produção optou por não criar nenhum tipo de relação com as mineradoras. “Há cenas em que mostramos as crateras, que são de acesso público, mas elas impõem uma certa norma ou um receio de enfrentamento”.

Bambozzi pondera que os moradores dessas regiões vivem um dilema, pois dependem da mineração para viver e, ao mesmo tempo, percebem os malefícios para a saúde. “Questionar isso é como estar sendo contra o desenvolvimento e contra o país. É uma distorção”, aponta.

0>Essa crítica é feita de maneira não panfletária. “Ele tem denúncias, mas não é um filme-denúncia no sentido de que as coisas são colocadas de forma simplista – ser contra ou a favor. Há sim que se pensar um modelo de mineração, como isso pode intervir menos na vida das comunidades”, recomenda.

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