Mais do que apenas um rapaz latino-americano

Thiago Pereira
talberto@hojeemdia.com.br
Publicado em 27/09/2017 às 14:11.Atualizado em 15/11/2021 às 10:45.

O encontro físico entre Jotabê Medeiros, autor de “Belchior–Apenas Um Rapaz Latino-americano”, com o artista que ele biografou, estava guardado para ser o último capítulo da obra. “Eu esperava dar de cara com ele e acrescentar no livro este encontro”, assume Medeiros. 

Capricho do destino, coube à parte final do livro detalhar a despedida do cantor, morto em 30 de abril deste ano, no Ceará que o viu nascer, crescer e sair para se tornar uma dos nomes fundamentais da música popular brasileira. “Passei a noite ali, observando as pessoas. Foi um desfecho inacreditável, fora do roteiro, de um filme de parecia de ficção”, se assusta o escritor. 

Mapear todo este percurso- ou partes dele que ainda estavam sombreadas pela história- é a missão assumida pelo jornalista no livro que lança amanhã, dentro do projeto Sempre Um Papo. Embalado por assumidas influências do chamado new journalism de Truman Capote e companhia, Medeiros procurou sublinhar no livro detalhes que compunham, na parede de memórias da trajetória de Belchior, um quadro mais amplo. 

Isso incluiu longa pesquisa, com fontes de diversos lados, começando pela incursão do jovem em um mosteiro de capuchinhos, no interior do Ceará. “Em todos os verbetes anteriores sobre Belchior, era comum ler que ele era um ex-seminarista”, diz. “Mas não se falava muito disso. Comecei a ir atrás, conversei com frades colegas da época e notei que esse período de introspecção inicial talvez seja o dado mais importante de sua biografia, por permear sua atitude ética. A iconoclastia, a erudição, até mesmo o canto gregoriano, muito do artista Belchior tem a ver com esse período”, relata. “Seu isolamento no final da vida talvez tenha sido uma espécie de reencontro com esta formação”.

O período de seu “sumiço” ganha páginas tão generosas na biografia, espécie de momento suspense policial no filme. Mas, o autor garante, não foi a parte mais complicada da missão. “Mais difícil foi entrar na intimidade familiar. Ao longo da carreira ele criou o personagem público, e preservou a vida íntima com muito afinco que poucos sabiam da esposa que viveu por 32 anos, dos filhos”, diz. 

Serviço
Sempre Um Papo com Jotabê Medeiros, amanhã às 19h30, no auditório da Cemig (Rua Alvarenga Peixoto 1200– Santo Agostinho).

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