Atração do Galpão Cine Horto de sexta (21) a domingo (23), "Manhã" provavelmente não é o espetáculo que o pastor e deputado Marco Feliciano (PSC) se animaria a assistir. Afinal, o enredo desta peça do grupo Domo, de Brasília, renega frontalmente que a homossexualidade seja uma pulsão humana a ser curada. Como o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara crê e pretende tornar uma opção de tratamento no país.
Dirigido por André Garcia, único membro constante nos quase 20 anos de atividades do Domo, o espetáculo traz à cena uma relação física e amorosa de dois homens, que vivem juntos há longos anos. Como parceiro um do outro, um casal como tantos, que divide o mesmo endereço e a mesma cama.
"Manhã", no entanto, não recorre às sugestões, às insinuações a que outros espetáculos teatrais (e cinematográficos) que abordam o mesmo tema se autorizam. Tudo nele é às claras, sem subterfúgios, afirma André. Outros Felicianos, portanto, deveriam evitá-lo. Sob pena de se sentirem profundamente ofendidos.
Curiosamente, é graças ao prêmio (federal) Myriam Muniz/Funarte, que a peça vem Belo Horizonte cumprir as três sessões e uma oficina sobre a linguagem do grupo, sobre a expressão vocal e corporal que utiliza.
Formado em 1994, um dos cinco mais importantes grupos da capital federal, o Domo nunca procurou se especializar, nem se filiar só a um gênero. Nas seis montagens que produziu, realizou "um desfile de estilos teatrais, da comedia ao drama", diz André. Além de diretor e autor do texto (de 2001), ele integra o elenco de quatro atores, com João Lima, Leudo Lima e Guilherme Victor.
Ator formado pela UNB, diretor autodidata, André atuou aqui uma vez: era um dos quatro protagonistas no elenco de 50 atores de "Tamanduá San", direção de Hamilton Vaz Pereira, exibido no Palácio das Artes. Dois dias antes da inesquecível apresentação do japonês Kazuo Ono, o grande mestre do butô, naquele mesmo espaço.
Além desta primeira visita a BH, o Domo leva o mesmo "pacote" a mais três capitais. Passou por São Paulo, onde foi acolhido no Espaço d os Parlapatões, na Praça Roosevelt. Depois daqui, viaja a Porto Alegre.
Serviço
"Manhã" - Sexta (21) e sábado (22) às 20 horas e domingo (23), às 19 horas, no Galpão Cine Horto (rua Pitangui, 3613, Horto). Entradas a R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).