Mania mundial, livros para colorir não resolvem problemas, mas desanuviam

Thais Oliveira - Hoje em Dia
18/04/2015 às 08:37.
Atualizado em 16/11/2021 às 23:41
 (Frederico Haikal / Hoje em Dia)

(Frederico Haikal / Hoje em Dia)

Febre mundial, os livros de colorir para adultos chegaram com uma proposta: desestressar. Não é difícil encontrar publicações que estampam, logo na capa, frases como “cores para combater o estresse”, “arte como terapia” ou, ainda, “terapia antiestressante para pessoas ocupadas” – promessas perfeitas para quem vive na correria das grandes cidades ou pressionado em alcançar metas cada vez mais altas no trabalho. E, quem já aderiu à nova moda, confirma que a atividade tem, sim, um efeito relaxante. Os adeptos (ou aspirantes a artistas), porém, devem tomar cuidado para não comprar a ideia errada.   “Dizer que é terapia é exagero. Na verdade, a atividade proporciona efeitos terapêuticos. A terapia é um tratamento”, alerta o psicólogo e professor da Newton Paiva, Fabrício Ribeiro. Segundo o psicólogo, o que ocorre é que, enquanto colore, a pessoa concentra a energia em uma coisa prazerosa para ela, desfocando, assim, a atenção dos problemas.    O resultado? “Aquilo vai te deixando mais calmo. O mesmo pode ser visto em quem gosta, por exemplo, de se exercitar ou bordar”, esclarece.   O médico e terapeuta do Instituto Mineiro de Medicina e Terapias, Jacques Tadeu França, concorda com a visão de Ribeiro. De acordo com ele, o efeito produzido é momentâneo.    “O exercício não é um tratamento que irá ajudar alguém a resolver os seus conflitos como a terapia. Pelo contrário, a pessoa consegue ter um instante de fuga, mas, quando voltar (à realidade), o que causou aquela desarmonia vai continuar lá, no mesmo lugar”, avalia.   Recomendação   Mas calma. Pode continuar colorindo! Ainda que a atividade não seja um tratamento terapêutico, os dois especialistas recomendam, sim, a adesão a ela. “Colorir pode estimular a criatividade e dá uma sensação agradável. É indicado, sim”, diz Ribeiro.    “Por meio da arte, você expressa o seu momento. O ato pode liberar uma carga emocional, o que representa um nível de ajuda terapêutica, ainda que superficial”, observa, por sua vez, França.   Boa notícia para Letícia Lorentz, 30 anos, e Roberta Oliveira, 26. “Estou viciada nisso. Quando o meu marido sai de casa, eu boto uma música e começo a colorir”, diz, com indisfarçável empolgação, Letícia, que é estilista.    Ela e mais duas amigas já fizeram da atividade um evento. Sempre que possível, o trio se encontra para colorir o “Jardim Secreto”, da escocesa Johanna Basford. “E está virando uma coisa engraçada porque, durante a semana, ficamos mandando fotos dos nossos desenhos pelo WhatsApp para ver quem coloriu mais bonito”, conta Letícia.   ROBERTA OLIVEIRA – “Fiquei tão ansiosa, que, antes de o livro chegar, imprimi gravuras e comecei a colorir”, conta a moça (Foto: Eugênio Morais / Hoje em Dia)   Uma ‘brincadeira’ que remete à primeira etapa da vida   Letícia credita o seu vício ao efeito relaxante aferido no curso da atividade. “Quando chega esse momento, parece que me desligo de tudo. Eu mesma, que trabalho com a criatividade, posso dizer que é uma coisa bem diferente, porque os desenhos são para você fazer sem compromisso e pressa”, compara.    A mesma sensação é compartilhada por Roberta. “Acho que isso acontece porque você só fica prestando atenção nos traços e em qual cor vai usar para preenchê-los”, supõe ela, que é relações públicas. Roberta conta que descobriu o livro de Johanna Basford há cerca de um mês e, desde então, passa mais de uma hora colorindo-o, quase todos os dias. “Quando soube do livro, já o quis logo. Fiquei tão ansiosa, que, antes, imprimi gravuras e comecei a colori-las. Foi uma forma de treinar e, claro, não fazer feio no meu livro novo”, diverte-se.   Diante de tanto sucesso, a editora Sextante aposta no lançamento de “Floresta Encantada”, também de Basford. O livro traz imagens de uma floresta cheia de criaturas curiosas que precisam ser descobertas e coloridas. “Além disso, nove símbolos precisam ser destravados para desbloquear a porta do castelo e encerrar a sua missão”, diz a editora.   Infância   De acordo com Fabrício Ribeiro, a sensação prazerosa causada enquanto se colore tem explicação na infância. “As crianças têm uma estratégia de satisfação ligada à fantasia. A medida que vamos crescendo, a questão da fantasia vai ganhando outros contornos, até que a perdemos. E essa ‘brincadeira’ nos faz remeter àquela primeira etapa da vida, quando não tínhamos tantas responsabilidades”, informa.   A psicóloga Eliana Calado afirma não conhecer ainda estudos que comprovem os benefícios de colorir desenhos livres como os presentes nessas publicações. Contudo, é possível compará-los às mandalas – desenhos geométricos, caracterizados por ter sempre um círculo no centro. “As mandalas conseguem cessar a nossa falação mental (pensamentos), pois a mente encontra um lugar de concentração. Os livros de colorir para adultos também exigem certa concentração e, quando isso acontece, a pessoa diminui a sua atividade cerebral e, então, relaxa”, explica.   E mais ‘O Livro do bem’ permite outro tipo de customização, com ideias e lembranças   Lançado em novembro do ano passado, “O Livro do Bem”, de Ariane Freitas e Jéssica Grecco (criadoras da fanpage do Facebook “Indiretas do Bem”), também é interativo, mas possui uma proposta um pouco diferente da dos livros de colorir para adultos. De acordo com a editora Gutenberg, braço do grupo Autêntica responsável pela publicação do livro, ao longo das páginas, com detalhes e trechos ilustrados à mão, o leitor pode personalizá-las com as suas ideias, lembranças e momentos que marcaram a sua vida. A obra também traz frases inspiradoras e receitas simples e gostosas.   Leitor é convidado a compartilhar, nas redes sociais, suas páginas   “Mas a interatividade não se restringe apenas ao papel: o livro também convida as pessoas a compartilharem suas páginas nas redes sociais com a tag #livrodobem. A intenção é que cada um mostre o resultado final do seu próprio ‘livro do bem’”, escreve a editora sobre “O Livro do Bem”. O leitor alvo da publicação é abrangente e pega, especialmente, as faixas a partir dos 13 anos. Desde novembro de 2014, quando foi lançado, foram vendidos aproximadamente 15 mil exemplares. A Gutenberg deve lançar outros títulos similares no segundo semestre.    ‘Vestindo minhas amigas’ estimula o leitor a criar estampas, adicionar rendas e acabamentos a bonecas   A cara das crianças, pré-adolescentes e adolescentes, o livro “Vestindo Minhas Amigas Designer de Moda”, da editora Usborne, traz mais de 300 adesivos de roupas e acessórios para criar estampas, adicionar rendas e acabamentos para colagem em bonecas, princesas ou top models – como preferir chamá-las. Há adesivos que vêm prontos e outros com opções para colorir ou pintar. O livro traz ainda orientações e dicas para deixar o look ainda mais legal. A ideia é usar o material para dar um toque especial às peças, assim como fazem os estilistas. 

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