CINEMA

'Marte Um' aposta nos jovens como força de transformação no país

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
29/08/2022 às 13:57.
Atualizado em 29/08/2022 às 14:54
Filme de Gabriel Martins tem a participação do ex-jogador Sorín (EMBAÚBA/DIVLGAÇÃO)

Filme de Gabriel Martins tem a participação do ex-jogador Sorín (EMBAÚBA/DIVLGAÇÃO)

Gabriel Martins construiu um “filme para a família”, como aqueles que são produzidos aos montes nos Estados Unidos, sem perder a sua assinatura. Em cartaz nos cinemas, “Marte Um” é uma das obras mais despretensiosas da Filmes de Plástico, sem perder de vista elementos importantes da produtora mineira, como a relação com a geografia social de Contagem.

Acompanhamos uma típica família de periferia, estável e com seus conflitos internos. Ela poderia ser de qualquer lugar do planeta, com ingredientes que são universais, como o garoto cheio de sonhos que vê o pai ter outros planos para ele. Deivinho quer ser astrofísico, mas, como muitos meninos negros no Brasil, é empurrado para os campinhos de futebol.

Esse mote segue a cartilha dos filmes sobre o sonho americano, em que não há propriamente um antagonista. As barreiras são internas e vão desde a classe social às regras quase invisíveis que não permitem que um garoto negro possa ocupar um lugar de destaque internacional. Basicamente é sobre a viabilidade desse desejo que o filme trata.

Muitos trabalhos da Filmes de Plástico flertam com o fantástico, como “Quintal”, mas o longa de Martins tem uma pegada diferente. Apesar de não apresentar nada extravagante, é como se a trama fosse ditada por uma lógica do destino, com Deivinho angariando nossa torcida para que possa chegar perto de seu sonho, por mais improvável que seja.

Os outros personagens, especialmente os pais e a irmã mais velha, giram em torno desse sonho. Apesar da aparente simplicidade, a construção deles cimenta a história, dando contornos realistas. Pai e mãe trabalham como empregados para famílias mais abastadas, símbolos da fidelidade a uma divisão social ainda dos tempos do escravismo.

De uma maneira muito despretensiosa, o filho caçula se transforma na expressão de uma nova geração. Esse aspecto é o ponto de chegada de “Marte Um”. Não há nenhum salto no tempo ou visita de um algum astronauta à casa daquela família. Mas o simples desejar torna Deivinho diferente, uma esperança que contagia o filme e lhe dá ritmo. 

Não é por acaso que a história começa pouco antes da posse de Jair Bolsonaro. Ela antecede os tempos sombrios, mas prefere estabelecer um período maior e mostrar o depois, a partir de uma conquista que nunca irá retroagir, com os negros e os grupos LGBTQIA+ não perdendo os seus lugares de fala. A luta será mais difícil, como mostra Deivinho, mas não inexequível.

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