Memórias de um patinete pelas ruas de Manhattan

Patrícia Cassese - Hoje em Dia
22/08/2015 às 07:51.
Atualizado em 17/11/2021 às 01:27

(Bira Soares/Divulgação)

Posto que um dom – a capacidade de andar – ao qual a maioria dos seres humanos não dá tanta atenção assim foi recuperado em sua integridade, coube a Lidia V. Santos se valer do fair play para concluir: “Foi uma das melhores coisas que me aconteceram”, diz, referindo-se à experiência de ter dois ossos da região do tornozelo quebrados. O acidente – ocorrido em 2012, na Park Avenue, em Manhattan, onde ela divide o seu ano com o Rio de Janeiro – é o ponto de partida de “Diários da Patinete– Sem um Pé em Nova Iorque” (Editora Texto Território), que ela lança neste sábado (22), na capital mineira.    A narrativa aparece em forma de diário. “Na verdade, um falso diário, pois é direcionado a um leitor. Um tipo de prosa que inventei para escrever como na verdade falo”, esclarece Lidia, que, como professora de literatura – portanto, enfronhada em estilos de escrita mais, digamos assim, elaborados – também comemora o fato de ter conseguido, aqui, atender a todo tipo de público com os perrengues decorrentes da adaptação a um período que, mesmo sendo temporário, exigiu paciência e capacidade de adequação.   Suzete   O patinete a que se refere o título é, na verdade, um “knee walker”, ou “andador de joelho”, e tem sido indicado por alguns fisioterapeutas como alternativa às tradicionais muletas (ponderando-se que essas podem ocasionar problemas nos ombros, por exemplo). Aqui, ele ganha o apelido de Suzete.   Com “ela”, Lidia se aventura a sair de casa, mesmo que a ida a lugares como um restaurante búlgaro seja frustrada. Em algumas ocasiões, pela dificuldade de acessibilidade, Lidia é obrigada a usar a cozinha de estabelecimentos como porta de entrada ou mesmo a área reservada para depósitos e cargas. E, assim, teve a visão de uma outra Nova York, na qual a língua dominante é o... espanhol! Sim, dada a origem da mão de obra mais comum. “Pode acreditar, o espanhol é a língua que mais ajuda em situações assim”, diz, bem humorada.    No cômputo geral, Lidia diz que todo o processo se transmutou em uma aprendizagem ímpar. “Geralmente, você não dá importância a esse membro inferior, e ao ato de andar, mas agradeço à minha fisioterapeuta que me lembrou que, se eu fosse um animal, por exemplo, estaria impedida de acompanhar o bando”.    No curso da empreitada, Lidia precisou reaprender a andar e teve que reavaliar espaços. “E a gente pensa que andar é simples...”, filosofa ela, que só lamenta que a atriz Judith Malina tenha falecido antes do livro pronto. Com a fundadora do grupo americano Living Theater, presa em Ouro Preto em 1971, sob a vigência da ditadura americana, ela teve um encontro permeado pela emoção durante os dias de Suzete.   “Diários da Patinete” – Neste sábado (22), a partir de 11 horas, na Quixote (Rua Fernandes Tourinho, 274, Savassi – telefone 3227-3077). Entrada franca   - As ilustrações de Bruno Liberati são outro ponto alto da obra, que acaba também dando dicas de uma NY não convencional.

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