Mestre da palavra - Paulo César Pinheiro fala sobre sua trajetória

Cinthya Oliveira - Hoje em Dia
16/04/2014 às 08:36.
Atualizado em 18/11/2021 às 02:09
 (Frederico Haikal)

(Frederico Haikal)

É difícil não se impressionar com Paulo César Pinheiro. Autor de mais de 2 mil músicas – sendo 1.300 gravadas –, ele ainda consegue tempo para escrever muitas outras composições, romances, contos, poemas, peças teatrais, fazer shows e se aventurar pelas ruas de seu Rio de Janeiro. “A minha matéria-prima é o povo. Sempre quis, de forma proposital, um certo anonimato, porque gosto de estar nos lugares para poder me misturar com as pessoas, ser um igual. Quem é anônimo, tem melhores condições de observação”, afirma o multiartista.

Quem quiser saber um pouco mais sobre a rotina desse mestre da palavra, pode conferir sua participação no projeto “Retratos de Artista: Molduras do Pensamento”, que acontece nesta quarta-feira (16) à noite, no Café 104. Será um clima de bate-papo informal, intermediado pelo amigo e parceiro Sérgio Santos, com direitos a casos divertidos, pensamentos e literatura – Pinheiro aproveita a passagem pela cidade para lançar o romance “Matinta, o Bruxo”, ambientado no sertão mineiro.

Outro livro de Pinheiro deve chegar às livrarias em breve. Trata-se de “Sonetos Sentimentais para Violão e Orquestra”, sua oitava publicação dedicada a sonetos. “Mas tenho vários outros (sonetos) guardados na gaveta, dá para reuni-los em outros livros”, diz o incansável artista. O segredo, para não se repetir na criação, é justamente trafegar em várias linguagens e caminhos artísticos.

“Quando sinto que estou me repetindo, quando tenho a sensação de que já escrevi aquele verso, já passo para o romance ou para a crônica. Depois de um tempo, volto. Mudar o caminho ajuda a manter um bom trabalho”, afirma.

Não demora muito e ele se debruçará sobre o teatro novamente. Pinheiro já tem a espinha dorsal de seu terceiro espetáculo – o primeiro, “Besouro Cordão de Ouro” (2006), abordava a capoeira, enquanto o segundo, “Galanga Chico Rei” (2011), focava o congado. Dessa vez, ele vai tratar do maracatu a partir da história fictícia de uma cigana negra, moradora de um canavial pernambucano. Além disso, se prepara para gravar um novo disco com músicas criadas sem parceiros.

Paulo César Pinheiro no Café 104 (Praça da Estação, 104). Nesta quarta-feira (16), às 19h30. Entrada gratuita mediante ordem de chegada. Capacidade: 120 pessoas

Filme pretende repassar trajetória

Muita gente já havia procurado Paulo César Pinheiro com o objetivo de fazer um documentário sobre sua vida e obra. “Mas quando chegavam aqui e viam quanta coisa já fiz, desistiam. É muita coisa para condensar”, conta o artista. Recentemente, o desafio foi aceito. Os cineastas Cleisson Vidal e Andrea Prates encararam a tarefa – e as primeiras filmagens de “Paulo César Pinheiro – De Letra e Alma” (título provisório) estão em curso.

“Tenho a impressão de que o filme vai abordar tudo, obra e vida pessoal. O interessante é que a Andrea quer que eu apareça em todo o filme, que conte as histórias, em vez de entrevistar outras pessoas que falariam sobre mim”, adianta.

Um dos pontos que serão abordados no filme é a rica gama de parceiros de Pinheiro. Ele já compôs com mais de cem artistas, muitos deles ilustres – como Tom Jobim, Baden Powell, Francis Hime, Edu Lobo, Joyce e Maurício Tapajós.

Várias gerações

O interessante é que o artista de 64 anos não trabalha apenas com pessoas da mesma faixa de idade. “Tenho cinco gerações de parceiros. O mais velho foi Pixinguinha, que estaria ‘fazendo 117 anos’ no próximo dia 23. Também já compus com o filho do Mauricio Carrilho, o Joaquim Carrilho, que tem 17 anos. Há um século entre o meu parceiro mais velho e o mais novo”, diz Pinheiro, que também compôs ao lado dos filhos de Baden Powell (Marcel Powell), Edu Lobo (Bena Lobo) e Danilo Caymmi (Alice Caymmi).

Seus dois filhos também são parceiros. Por sinal, Julião Pinheiro, 26 anos, entra em estúdio em breve para gravar o primeiro disco, só de parcerias entre ele e seu pai. “Trabalhando com jovens consigo atravessar os tempos me renovando. Assim, continuo jovem”.

Sérgio Santos

O mais profícuo parceiro de Paulo César Pinheiro mora em Belo Horizonte. Com Sérgio Santos, realizou mais de 200 composições, muitas delas gravadas pelo violonista mineiro – como o álbum “Rimanceiro”, lançado no ano passado, onde há apenas músicas assinadas pelos dois. “Nossa parceria dá tão certo porque o Sérgio, assim como meu filho, adora musicar poemas. Isso não é fácil. Uma coisa é você pegar seu violão e criar uma melodia, outra coisa é pensar na música que o verso tem”, explica Pinheiro.

Outra parceria que dá bons frutos é a firmada com Dori Caymmi, que acaba de lançar o terceiro disco com composições assinadas com Pinheiro. O novo “Setenta Anos” é uma continuação de “Poesia Musicada” (2011), mas, dessa vez, o foco é dado ao violão.

Os dois fizeram mais músicas juntos nos últimos quatro anos do que no restante das quatro décadas de amizade.
O mais estranho é que Dori mora em Los Angeles e os dois dependem do computador (que tanto odeiam) para compor. “Ele me liga umas quatro vezes por semana. Então, quando pensa num projeto, já sei o que está querendo”.

 

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