Minas Gerais marca presença na oitava edição do Festival da Mantiqueira

Patrícia Cassese - Hoje em Dia
10/04/2015 às 08:36.
Atualizado em 16/11/2021 às 23:35

(DIVULGAÇÃO )

O festival é paulista, mas o sotaque mineiro se faz presente a partir da curadoria, delegada a Luiz Ruffato. Começa nesta sexta-feira (10), em São Francisco Xavier, distrito São José dos Campos, o Festival da Mantiqueira, que, nesta edição, se desenrola sob o tema “Todos os Cantos”, propondo um balanço da literatura nacional a partir dos seus diversos sotaques e gêneros. A “ala mineira” do evento – que se encerra domingo, 12 – abarca nomes como Affonso Romano de Sant’Anna, Mario Prata, Cidinha da Silva, Iacyr Anderson Freitas e a dramaturga Grace Passô

Affonso Romano, aliás, faz a abertura do evento, “O Amor na Poesia Ocidental”, nesta sexta-feira (10), às 20h, retomando o tema que norteou seu livro “Canibalismo Amoroso”. Lançado em 1993, a obra se mantém em catálogo. “Trata-se da história do desejo e das formas de amar que o homem estabeleceu, tanto no Oriente quanto no Ocidente, no curso do tempo. Os machos alimentam algumas fantasias com mulheres (santas, a prostituta, a monja ou até a morta) que aparecem em diversas literaturas, seja a russa, a espanhola... Enquanto fazia esse livro, isso ia ficando, para mim, cada vez mais evidente. Vem de obras como ‘La Traviata’, na qual a morte entra como punição, à era moderna, na obra de Manoel Bandeira, por exemplo. E segue até Vinicius de Moraes, o ultimo poeta que estudei. Ou seja, tentei mostrar a história do amor e do desejo, das alucinações amorosas que pulsam na imaginação masculina, mas, nas minhas aulas (ele lecionou por mais de 20 anos, tendo como foco a Psicanálise e a Literatura), sempre tentava estimular o ouvinte a trabalhar o outro lado, a tentar enxergar também o lado feminino”, diz Affonso, que acaba de voltar do Salão do Livro de Paris.

Fabrício Carpinejar, Paulo Scott, Verônica Stigger, Ferréz, Raimundo Carrero, Nicholas Behr, Heitor Ferraz Mello, Marçal Aquino e Marcos Peres são outros nomes que confirmaram presença no evento.

Muitos projetos na cartola 

Affonso Romano lembra que, durante muito tempo, as mulheres que escreviam, em geral, o faziam sobre o prisma masculino. "Foi só na década de 60 que surgiu uma literatura mais 'agressiva', poetas falando de temas como o desejo. Foi um período no qual emergiram questões mais ricas, os homossexuais começaram a expressar, de maneira mais palpável, suas questões. 'Canibalismo Amoroso' trata dos fantasmas masculinos e abre janelas em relação a esses fantasmas", segue Affonso, sobre a obra que está em sua quinta edição. "O livro é muito usado nos cursos de literatura, pois é uma maneira de entender como cada época inventou um tipo de mulher. No tempo de Camões, por exemplo, o escritor - e seus contemporâneos - não descreviam a nudez feminina, no máximo, lábios e uns poucos chegavam aos seios, mas muito raramente". Ou seja, para ele, existe um "strip-tease progressivo" à medida que a literatura avança no tempo.

Sobre participar de eventos literários como o Festival da Mantiqueira, Affonso Romano frisa que o contato direto com o público, sem filtros, é mais do que bem vindo. "Faço muitas conferências, umas 30 por ano, e dei aula por mais de 30 anos. O contato com o público, na minha trajetória, é, pois, constante. São ocasiões nas quais você está dizendo suas ideias e tem respostas ali, concretas. E a literatura deixa de ser uma coisa livresca, e se torna mais palpável. Neste caso específico, do Festival da Mantiqueira, é a primeira vez que participo deste evento, mas é sempre uma oportunidade interessante de encontrar um publico interessado neste tema interessante que é o amor".

Sobre a recente passagem por Paris, onde participou do Salão do Livro, que, nesta edição, homenageou o Brasil. "Também dei um depoimento na (Universidade) Sorbonne, sobre minha obra, para estudantes, e participei de um debate junto à minha mulher, Marina (Colassanti). É uma experiência interessante, porque, há 60 anos nesta brincadeira, vejo uma nova geração de leitores surgindo, uma mudança de guarda. Vivemos um momento particularmente interessante, há muitos autores brasileiros sendo traduzidos no exterior, como foi possível constatar na Feira de Frankfurt 2013 (edição que homenageou o Brasil)". Romano lembra o número, aferido na cidade alemã, de leitores europeus interessados em textos sobre questões brasileiras, e acrescenta que todo esse movimento teve como epicentro a iniciativa da Biblioteca Nacional (instituição que esteve à frente), de ter um projeto de tradução direcionado aos escritores brasileiros, patrocinado pelo governo. "Esse pessoal todo, que está sendo traduzido, é beneficiário deste programa, que está no site da Biblioteca. Qualquer um pode acionar".

Já em seu próprio caso, Affonso Romano diz que, pelo fato de ter atuado na participação do projeto, preferiu ficar "em silêncio", sem se beneficiar dele. Ano passado, porém, veio o convite para lançar "O Enigma Vazio" por uma editora italiana. No mais, o mineiro acaba de ter sua "Poesia Reunida" relançada (pela LP&M) e é o homenageado da recém-lançada coletânea "ARS", com três livros sobre sua trajetória. Estão previstos, ainda para este semestre, o lançamento de "Entre o Leitor e o Autor" (Rocco), livro de depoimentos, crônicas e sugestões para escritores iniciantes e, ainda, a edição virtual de "Desconstruir Duchamp".

A programação e outras informações estão no site festivaldamantiqueira.com.br

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